quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Novo tempo

Ainda é de manhã na casa de Rosi, mas a família já está quase toda arrumada. Falta levar ainda algumas coisas para o carro, tentar encaixá-las no porta-malas e, então, seguir em frente.

A viagem nem é tão demorada assim, mas é necessário chegar cedo à praia, caso queira garantir um bom lugar na areia para o Réveillon.


A família de Rosi não quer só assistir à queima de fogos, na verdade. Quer fazer uma grande confraternização para celebrar o ano que chega. Uma festa que dura quase o dia inteiro e exige uma certa organização: montar a tenda, colocar a bebida para gelar, arrumar algumas cadeiras para os mais velhos se sentarem e conferir se está tudo ok com o churrasquinho.

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João vai passar mais uma ano novo longe de casa. Está nos Estados Unidos, trabalhando temporariamente para uma firma local. Vai passar o Réveillon em casa mesmo, pois tem que adiantar alguns relatórios do trabalho. Contudo, vai ficar atento ao relógio e ao fuso horário. Quando der meia-noite no Brasil, vai sintonizar o canal internacional. Já que não é possível estar lá pessoalmente, o jeito é assistir à queima de fogos pela TV e matar um pouco as saudades de casa.

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A família de Juvenal mora no campo em uma pequena cidade do interior. Quando dá meia-noite do dia 31, os vizinhos costumam estar reunidos na varanda de alguma casa, jogando conversa fora.

No lugar, não há nenhuma programação especial para esse dia. Nada de shows, eventos ou queima de fogos. Preferem ficar, então, com a família e com os amigos, conversando até a vinda de um novo dia.

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Thiago está numa boate. Não é a primeira vez que comemora por lá. Gosta daquele clima, de conhecer gente nova e ficar dançando sem parar.

Dentro da boate, perde-se a noção de tempo. Não há janelas e o som é bem alto. Sabe-se que o dia 1° está chegando quando o DJ diminui a música e começa a contagem regressiva.

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Chico já está velho e vive em um apartamento acanhado, sozinho. Já quase perdeu as contas de quantos Réveillons viveu, cada um em um lugar e de forma diferentes. Agora, com mais idade e sem o mesmo pique de antigamente, escolhe passar a virada descansando. Sente sono cedo e não aguenta mais esperar até tão tarde. Assim, quando os primeiros sinais de cansaço aparecem, ele se recolhe e vai dormir.


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Cada uma dessas pessoas escolheu passar o dia 31 de uma forma diferente. Todavia, há uma semelhança entre elas: todas acreditam que dias melhores estão por vir.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Aniversário do blog

Há exatamente um ano meus textos finalmente saíam do papel e ganhavam a tela do computador. Sobre a forma de um blog intitulado "Letras e Relicário", eu enfim voltava a escrever- pensamento esse que eu já cultivava há um tempo.


No início, foi estranho. Não sabia que rumo tomar ao certo. "Escrever sobre o quê? Como manter uma regularidade e, ao mesmo tempo, qualidade?". Essas eram apenas alguma das minhas muitas dúvidas. Outro problema também era (e ainda é) minha timidez. Fico embaraçada enquanto os outros leem meu texto. Sei que pode soar estranho tal comportamento para uma pessoa que pretende ser jornalista. Mas talvez os tímidos entendam o que quero dizer...

Aos poucos, o blog foi ganhando forma. Comecei a me sentir um pouco mais confiante e até me aventurei no mundo das crônicas, algo até então inédito para mim, acostumada com os textos dissertativos-argumentativos do colégio.

O blog cresceu e superou minhas expectativas iniciais. Passou a ser lido por outras pessoas também, além dos meus amigos. Leitores que não conheço pessoalmente, o que me deixa ainda mais feliz.

Claro que tudo isso não foi fruto apenas do meu trabalho. Pelo contrário. A criação de um twitter específico para o blog (@letrasrelicario) foi apenas uma das boas ideias que recebi de amigos. Sem falar do trabalho de revisão dos textos, da divulgação do blog pelos nossos colegas...

Graças ao apoio desses parceiros, alcancei bons resultados. Só tenho a agradecer a todos que, de alguma forma, me ajudam seja comentando os textos, divulgando ou apenas acessando rápido para dar uma olhada. Não me arrisco a listar o nome de todos que colaboraram, pois certamente seria injusta ao esquecer o nome de alguém. Mas acredito que essas pessoas sabem que estou falando delas. A elas, então, o meu muito obrigado ainda mais especial.


Uma das minhas muitas alegrias nesse ano foi ter um texto de minha autoria publicado em um livro ("Acredite Universitários"). Fui umas das 100 vencedoras de um concurso do Universal Channel promovido em todo país entre os estudantes de universidades. Era um antigo sonho meu ter um texto publicado.

Consegui também manter meu compromisso com vocês, leitores, ao publicar semanalmente. Confesso que não sei como será o próximo ano. Minha vida na faculdade ficará mais "puxada". Contudo, pretendo continuar com o blog, ainda que não consiga escrever com a mesma regularidade e que o número de acessos venha diminuindo.

Por fim, uma novidade: agora vocês podem curtir a página do blog no facebook  (https://www.facebook.com/pages/Blog-Letras-e-Relic%C3%A1rio/310507488982471). Por lá também, vocês podem acompanhar melhor o meu trabalho. Paralelamente, o twitter do blog também continua a todo vapor (@letrasrelicario), bem como o meu pessoal (@mclaramodesto).


A todos vocês, meu sincero obrigado. Vocês são a parte mais importante desse relicário.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sobe, balão!

Na praça do bairro ele está sempre presente. Discreto, sua presença, no entanto, sempre chama a atenção das crianças. Qualquer jovem que passe por ali acaba desviando o olhar para ele. Ou melhor, para os balões.


Há balões de todas as cores e modelos: azul, vermelho, com desenho... Seu estoque é grande: sempre que o produto está acabando, ele logo trata de providenciar mais. Afinal, ele não pode ver uma criança triste sem o balão que tanto queria.

Ele nem sempre trabalhou com balões e naquela praça. Já esteve em parque de diversões, shoppings, etc. Mas em nenhum lugar foi tão feliz quanto ali, ao lado das crianças e de seus pais.

Cada balão que vende é como se fosse uma nova história contada. Uma história de simplicidade, como o balão, feito por linha e bexiga de borracha. Uma história de sucesso e queda: a alegria de uma jovem quando se vê diante do brinquedo e sua tristeza quando esse estoura ou voa. Uma história de nosso tempo: corrido, instantâneo e descartável. Após um deslumbre inicial logo esquecemos o balão em um canto, murchando. Ou abrimos mão mesmo desse, deixando-o voar porque "estamos cansados de ficar segurando".


Mas nada disso afeta o vendedor. Ele ainda se emociona com o fascínio que um mero balão desperta nas pessoas. E mesmo quando esse voa, o sorriso do vendedor permanece. Ele acredita que alguém lá em cima guarda-os, como uma espécie de lembrança da Terra. E que, no final das contas, os adultos e crianças lá em cima também estão se divertindo com o colorido dos balões.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

VIP

"Pois não, senhora. Pode entrar. Tenha uma boa festa"
"Perdão, meu senhor. Seu nome não consta na lista. Queira retornar, por favor. 
Mas como assim? Quer dizer que estou barrado?"



Eles constituem um mundo separado. Tem os seres humanos mortais e há eles: os VIPs. Sigla para Very Important Person, nem sempre eles são tão importantes assim. Muitas vezes, são celebridades instantâneas que já no próximo ano terão sido esquecidas. São pessoas do quinto escalão da classe artística. Nesse exótico grupo, ser ex-participante de reality show é quase uma profissão.


Ser considerado VIP não é para qualquer um. Um dos pré-requisitos para isso é já ter ido ao Castelo de Caras. É como um divisor de águas na carreira. Se antes você era a "atriz fulana de tal com seus filhos", agora você é " Elegante em sua nova casa de campo, Fulana de Tal apresenta seus herdeiros". Nada como saber usar as palavras certas.


Outra característica peculiar desse grupo é a presença de pulseirinhas no pulso. Temos também suas variações, como a camisa-convite, versão mais sofisticada das pulseirinhas. Sempre com o nome dos patrocinadores, as camisas são confeccionadas de forma padrão. Mas cada celebridade dá o seu jeitinho para não ficar igual a todo mundo. O importante é  a camisa: cortar a gola, deixar só uma manga e a barriga de fora.

Por meio das pulseirinhas ou das camisas, as celebridades têm acesso a um novo mundo. Um lugar onde tudo é perfeito, todos os flashes apontam em sua direção e cada um tem o seu próprio garçom.

Nesse novo mundo tudo é permitido: beber, perder a linha... "Se existe uma lei que proíbe o fumo em locais fechados, quem se importa? Ela não se aplica a mim".

Quando os VIPs mais VIPs (sim, porque também há uma hierarquia entre eles) estão cansados, uma boa pedida é recorrer ao "curralzinho". Lá, existe um espaço só seu para relaxar. Só entra quem quiser e qualquer tipo de paparazzi está vetado. Privacidade total.


Uma vez no "curralzinho", os VIPs só saem de lá para o grande momento da festa: a hora em que o DJ toca funk. Aí é uma correria generalizada para a pista de dança, que fica lotada. Descer até o chão segurando o copo da cerveja que patrocina a festa e ser fotografado. Pronto, sua participação no próximo evento está garantida.

E quando você cansar, terá uma van vazia esperando para levá-lo para a casa. Não tem problema que você tenha ido de carro e deixado no valet local com o manobrista. No dia seguinte, sua carruagem estará direitinho em sua mansão, como em uma passe de mágica.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Já é Natal...

Menos de um mês para o ano acabar. Algumas pessoas já preparam aquelas listas de promessas para o próximo ano: emagrecer, praticar um esporte, parar de fumar. Naturalmente, quase nada será cumprido.


As lojas e os shoppings também começam a ficar lotados. Parece uma competição entre as mulheres para ver quem sai com mais sacolas. Das tradicionais lembrancinhas para familiares que você não vê há anos, passando pela ingrata tarefa de escolher algo para seu amigo oculto. Aliás, tal denominação é um tanto engraçada: na maioria das empresas, o funcionário acaba contando para o amigo mais próximo quem ele tirou. Outras vezes, quando a empresa é maior, você acaba tirando uma pessoa sobre a qual você não tem conhecimento algum. Nesse caso, sim, temos um amigo oculto. Ou seria um "colega oculto", já que nunca o vimos na vida? E como falar de alguém que você não conhece para os outros adivinharem? Haja clichês!

Também é importante começar a pensar em qual prato você levará para a confraternização em família. Certamente, você vai preparar algo delicioso e com carinho, enquanto outras pessoas chegarão de mãos abanando, com uma fome insaciável, e comerão em questão de minutos todo o seu prato. Mas dentro das conversas, essa mesma pessoa que nada fez é bem capaz de reclamar do tempero e achar que que ficou faltando sal.


Papai Noel, é claro, também estará presente. Ou melhor, onipresente: em todos os shoppings, condomínios, lojas e lares. Até o seu tio já bancou uma de bom velhinho, mesmo sendo magro, sem barba e novo.

Acho que há algo de errado nessas histórias.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

"Conselho de classe"

Desde o início do ano, uma equipe de reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, vem acompanhando a rotina de quatro jovens professores da rede pública de ensino.


Tal trabalho resultou na exibição, aos domingos, do quadro "Conselho de classe". O objetivo maior desse quadro é mostrar a realidade dentro das salas de aula em nosso país, bem como os problemas que os professores enfrentam para tentar ministrar suas aulas.

O cenário principal é a escola República do Peru, situada no bairro do Méier, Rio de Janeiro. É lá o local no qual 4 jovens professores dão aulas: cada um de forma diferente, ao seu modo.

Estilos à parte, todos os professores têm um dilema: conseguir prender a atenção de seus alunos. Enquanto esses profissionais tentam explicar a lição, no fundo da sala de aula um grupo conversa e outro brinca de se maquiar. Os professores chamam a atenção. Uma. Duas. Três vezes. Em vão. Os alunos não estão nem aí para o que acontece.

Embora o quadro seja gravado numa escola pública, a realidade no sistema particular também não é muito diferente. Fones de ouvido e jogos ganham mais atenção do que os cadernos e canetas.

A verdade é que a educação é um dos entraves no caminho para o desenvolvimento de nosso país. Já até abordamos esse tema antes no blog. Faltam professores qualificados, infraestrutura... Mas parte da responsabilidade pelo nosso mau desempenho nas avaliações internacionais não é só dos políticos. Alunos que não se comportam de forma adequada em sala de aula dificultam sua própria vida (e seu futuro) e a dos demais. Assim, fica ainda mais complicado para os professores darem aulas e o aprendizado é prejudicado.

Uma das formas, então, de tentar reverter esse quadro é cobrar mais de nossos estudantes. Participação, pontualidade e postura dentro de sala de aula são essenciais.

Link de um dos episódios: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1676694-15605-456,00.html

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pequeno torcedor

Assim que saiu da maternidade, ele já tinha um presente especial à sua espera: o uniforme do time de coração de seu pai. Mesmo que a contragosto da mãe, o pai não hesitou em comprar a roupa. Era uma forma de tentar convencer logo o garoto sobre qual time deveria torcer. Mesmo que, com aquela idade, ele não fizesse a menor ideia do que aquilo significava.

O menino foi crescendo e o pai continuou incentivando-o. Vitória do time? Uniforme no garoto!

A mãe, por sua vez, não gostava muito daquilo. Achava que deveriam esperar o garoto crescer para ele fazer suas próprias escolhas. Mas não tinha jeito. Nada impedia o pai de "cumprir aquela missão".


Por anos, o pai esperou para ir ao estádio com o menino. Assim, logo que fez 4 anos, lá foram os dois acompanhar de perto o time.

No tão esperado dia, saíram de casa com antecedência. O garoto estava bastante animado. Com uma camisa tão longa que tropeçava em seus próprios pés, ele tremulava aquela bandeira radiante.

O pai estava orgulhoso ao ver que suas "investidas" deram certo. Conseguira despertar desde cedo a paixão daquele torcedor. Agora, não tinha mais erro. Ele levaria aquele escudo no peito para sempre.

No estádio, o menino teve seu rosto pintado com as cores do clube e entrou junto com os jogadores. Estava eufórico. Mas, dentro de campo, a situação era bem diferente. O time jogava mal e era dominado pelo
adversário. Os gols saíam com facilidade para a equipe visitante. Um. Dois. Três...


Antes mesmo do fim do jogo, a torcida já abandonava seus lugares e saía do estádio cabisbaixa. O clube vivia uma época difícil e sem títulos.

Fim de jogo. O pai deu a mão ao menino e ambos se encaminharam à saída. O garoto, mesmo com a derrota, continuava cantarolando e agitando sua bandeira. Foi, então, que o menino percebeu que seu pai estava diferente:
- O que houve, papai? Se machucou? Por que você está chorando?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Possibilidades

É possível voar?
Há vida fora do planeta Terra?


Mas não me refiro a essa perguntas tão complexas da ciência que já foram, inclusive, respondidas ao longo dos anos. Minha dúvida é mais particular, quase uma angústia existencial.

Será que devo ir em frente? Acreditar em mim? E se eu for rejeitado? E se rirem da minha cara? Não, não posso pensar assim. Esse tipo de pensamento só me deixa ainda mais ansioso e pessimista.

Minha família sempre falou para eu acreditar mais em mim, ser mais confiante. Mas o problema é agir. Ainda mais depois de tantas decepções, tantas lágrimas derramadas... A ferida ainda dói.

Seria tão mais simples se alguém estivesse disposto a me ouvir, tentar entender o que estou passando. No entanto, onde estão meus conhecidos nessas horas?

Certamente, seria bem mais fácil se a vida fosse um mero jogo de tabuleiro. Lançaria os dados, avançaria algumas casas. As consequências ficariam restritas ao jogo, não passariam para a vida real.


Contudo aqui não há dados, nem peões, muito menos tabuleiros. A responsabilidade é minha, somente minha. Espero tomar a decisão certa. Dar um xeque-mate. Ou seria a cartada final?

Ah, quer saber? Chega de devaneios e suposições. As chances são pequenas, mas vou em frente. Suando, tremendo, sem confiança, mas persisto.

Quem sabe ela gosta de mim?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O pescador

O dia mal começou a nascer e lá estão eles de novo. Em seus pequenos e humildes barcos, parte da colônia de pescadores já está de pé e se lança ao mar.


O que esperar? Essa é uma verdadeira incógnita. O dia pode ser de fartura e o pescador voltar com sua rede cheia e um sorriso que não cabe no rosto. Mas o contrário também pode acontecer. Voltar para a casa cabisbaixo e com a rede vazia.

A responsabilidade é ainda maior para esses pescadores. Não pescam por prazer apenas, mas por profissão. São dessas águas que eles tiram o sustento da família. Uma boa pesca pode compensar vários dias ruins.

Assim também é a vida. Um constante lançar de redes. Às vezes, estamos confiantes, mas a rede volta vazia. Às vezes, a pescaria é tanta que uma só rede não é suficiente.

Mesmo diante dessas incertezas, temos que ser como os pescadores: levantar a cabeça e esperar pelo raiar de um novo dia.  Quem sabe algo de especial não está reservado para o dia seguinte?


Para isso, é preciso continuar acreditando e trabalhando. Estar sempre disposto a lançar novas redes. E a cada pescaria, a esperança se renova.

"Hoje vai dar certo".

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Bravo!

Hora de colocar a maquiagem. Pó no rosto, roupas coloridas, peruca e, por fim, o toque especial: o nariz. Estripulia repete esse processo há anos.

Antes mesmo de atuar como palhaço, já trabalhava no circo. Tradição de família, começou aprendendo malabarismo e depois foi se aperfeiçoando e ocupando outras funções.


Desde pequeno, junto com seus pais, nunca morou por muito tempo em uma cidade. Viajava por todo o Brasil com o espetáculo. Era um nômade por opção. Adorava ver a alegria com que as crianças do interior recepcionavam o circo. Bastava começar a montar a lona que gente de toda parte vinha perguntar quando seria a próxima atração.

Em dias de espetáculo, a arena ficava lotada. Era diversão garantida para o público e para quem trabalhava ali. Crianças, seus pais e familiares davam um colorido ainda mais especial àquele universo.

Contudo, os anos se passaram. Seus pais faleceram e ele ficou responsável pela administração daquele circo. Se empenhava ao máximo na tarefa. Mas a verdade é que as coisas haviam mudado: quase não havia mais shows para fazer e os poucos espetáculos marcados ficavam vazios.

O circo como forma de diversão fora perdendo espaço para televisões e os computadores. A violência também influenciou: já não se podia andar mais normalmente à noite por ruas desertas. As crianças ficavam, então, dentro de casa, enclausuradas.


Estripulia sentia muito essas mudanças. Ainda mais ele, que viveu a "época de ouro" do circo. Mas, mesmo assim, ele não desistia . Continuava administrando seu negócio.  Mesmo com poucos e esvaziados espetáculos, ele ainda se encantava. Um breve sorriso de uma criança bastava para que ele continuasse firme na luta. A luta para levar alegria e diversão, ainda que passageiras, para os mais jovens.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Top 10- Letras da Legião Urbana

Essa é uma lista diferente. Não pretende eleger as 10 melhores músicas da Legião Urbana, até porque enquanto fã seria quase impossível escolher apenas 10. Esse Top 10 tenta escolher as mais belas letras da banda, tarefa essa também muito difícil. Renato Russo é, certamente, um dos melhores compositores de sua geração, senão o melhor. Suas composições transitam desde críticas políticas até grandes declarações de amor.

Essa iniciativa do Top 10 também se encaixa perfeitamente na proposta do blog de contribuir para a disseminação da literatura em nosso país. E se, lamentavelmente, muitos não gostam deler, a música tem um público maior. Assim, juntamos os dois: música e literatura.

Top 10 (ordem alfabética e com as letras para acompanhar)

 Daniel na cova dos leões
Grande metáfora essa letra. Já foi, inclusive, interpretada pelo nosso blog




 Faroeste Caboclo
168 versos diferentes contam a história de um migrante brasileiro




Geração coca-cola
A revolta adolescente contra o excesso de americanismo


Há tempos
A frustração de um jovem diante do mundo em que vive


"Índios"
A visão dos índios também tem sua vez


 Pais e filhos
Verdadeira declaração de amor aos nossos pais


 Perfeição
Ironia com os problemas brasileiros


 Que país é este?
Música da década de 70 que permanece atual


 Tempo perdido
Um olhar sobre a temporalidade


 Vento no litoral
A dor da perda de um companheiro


Desde já, reconheço que ótimas composições ficaram de fora dessa minha lista pessoal, casos de Por enquanto, Será, Metal contra as nuvens, Monte Castelo, Eduardo e Mônica... Se você achar que ficou faltando alguma música também, cornete nos comentários!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Nostalgia

Veja se você se identifica. Aproveite para relembrar sua infância conosco.


Autorama. Futebol de botão. Dedobol. Stop. Jogo da Velha. Queimado. Elástico. Amarelinha. Pique-esconde. Cama de gato. Pera, uva, maçã ou salada mista. Tamagotchi. Marco Polo. Banco Imobiliário. Jogo da Vida. Show do Milhão. Super trunfo.Onde está Wally? Resta 1. Bate-bate. Imagem e ação. War. Gameboy. Adoleta. Totó. Cama elástica. Animador de festas.


 Cruj. Chiquititas. Rebelde. O diário de Daniela. Pokémon. Digimon. Sakura Card Captors. Scooby-Doo. Hamtaro. Ursinhos carinhosos. Doug Fanny. Kenan e Kel. Cocoricó. Power Rangers. Teletubbies. As princesas. Castelo Rá-Tim-Bum. Capitão Planeta. O fantástico mundo de Bob. Du, Dudu e Edu. Popeye. Pica Pau. As meninas superpoderosas. O laboratório de Dexter. Cavaleiros do Zodíacos. Garfield. Barbie. Mario Bros. Sítio do Pica-pau Amarelo. Turma da Mônica. Simpsons. Snoopy. Bob Esponja. Pooh. Rugrats. As tartarugas ninjas. Bananas de Pijamas. A vaca e o frango. Johnny Bravo. Chaves. Piu-piu e Frajola. Tom e Jerry. Nickelodeon. Cartoon Network.


Tênis de rodinha. Maria chiquinha. Maiô. Bóia. Touca. Prancha. Pulseira de borracha. Tazos. Gibis. Magic. Fliperama. Lan house. Tatuagem de Henna. Tererê. Melissa.


Backstreet Boys. Sandy e Júnior. Spice Girls. Xuxa. Angélica. Eliana. É o Tchan. Anna Júlia. Hanson.


Titanic. Space Jam. Harry Potter. Toy Story. Shrek. Procurando Nemo. Vida de inseto. Rei Leão. Pocahontas. Peter Pan. Os incríveis. Wall E. Kung Fu Panda. Era do Gelo. Madagascar. Carros. Up. Mostros S.A. Happy Feet. Pequena Sereia. Hércules. A viagem de Chihiro. A dama e o vagabundo.


Caçulinhas do Guaraná Antárticta. Polly. Minicraques. Skate de dedo. Lancheira. Mola.


ICQ. Blog. Flog. Msn. Orkut. Carmen Sandiego. Elifoot. Sonic. Mario. Minilaptop. Fita cassete. Walkman. Discman.


Fruit-tella. Bala de maçã verde. 7 Belo. Pirulito de coração. Bala juquinha. Bis. Bolo de chocolate. Push Pop. Toddynho. Fandangos. Trakinas. Jujuba. Kinder ovo. Miojo. Sucrilhos. Nescau. Pipoca. Algodão doce. Picolé. Batata Frita. Hamburguer. Brigadeiro. Coxinha. Cachorro quente. Bolinho Ana Maria. Tortuguita.

Palavras soltas também podem fazer sentido. Não precisamos sempre de frases. Ainda mais para quem viveu esse período.

Feliz dia das crianças!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Reclusão

Já faz uma semana que ele não sai de casa direito. Suas saídas se resumem a ir ao mercadinho da esquina comprar algum mantimento ou ao banco pagar as despesas. Fora isso, é quase impossível vê-lo na rua atualmente.

Alguns amigos e familiares até tentaram tirá-lo de casa. Convites para festas, jantares e cinemas não faltaram. Ele agradeceu e recusou educadamente todas as ofertas.



Tem até evitado ver televisão e atender ao telefone. Precisa de concentração total. Está em vias de terminar seu primeiro romance. O sonho de escrever seu primeiro livro está cada vez mais próximo. Mas ele ainda precisa rever certos trechos e "lapidar" outros, como ele mesmo gosta de falar. Nesse processo, qualquer descuido pode ser fatal e comprometer a qualidade do trabalho. Por isso, essa exclusão voluntária.

À medida que o prazo final se aproxima, mais ansioso ele fica. Por vezes, sente um mal-estar. Já tomou alguns remédios para ver se a indisposição passava. Tentativa frustrada.

Sobre o escritor, pouco se sabe. Só os amigos mais próximos e familiares tem contato com ele. A maioria de seus ex-colegas de faculdade nunca ouviu falar. Quando alguém consegue ter uma vaga lembrança, não associa o nome à pessoa.

Contudo, ele já se acostumou com essa vida. Prefere a privacidade de sua casa a superexposição de lá fora. Não tem  muito ânimo para sair. Não gosta de ficar até tarde na rua. Difícil é explicar isso para seus conhecidos: são tão comunicativos e  ele sempre com aquele ar desconfiado, sobrancelha levantada e fechado. Quem não o conhece direito pode achar à primeira vista que é antipático. Não é verdade. É apenas o seu jeito quieto e monossilábico.


Quem já conhece seu trabalho por meio das crônicas que publica nos jornais da região quer saber mais sobre ele. Sua vida, seus gostos e interesses. Mas ele não gosta de falar muito, nem dá entrevistas sobre o assunto. Não gosta de expor sua intimidade, ainda que isso possa soar estranho em uma era como essa. Quer ser reconhecido, na verdade, pelo seu trabalho.

Os editores reclamam que essa postura pode atrapalhar as vendas do livro. Querem que ele seja mais solto, fale mais de sua vida e promova o livro. Mas para o escritor o que precisa ser falado, já foi dito. Provavelmente, nem todos perceberam isso. Sim, porque quando ele cria um conto, uma crônica ou o que quer que seja, parte de sua vida está escrita naquelas linhas, ainda que implicitamente. Os personagens e as histórias podem ser fictícias, mas sua forma de ver o mundo e suas experiências também estão presentes na narrativa. Só que misturadas em meio à imaginação, a doses de dramas, ironia...

Pena que nem todos enxerguem essa sua intimidade.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Inspiração

Quando comecei a desenvolver esse blog, em dezembro de 2010, estabeleci como meta escrever pelo menos, um texto por semana. Geralmente, as publicações ocorrem nas quintas-feiras, salvo em alguns casos específicos.

Esse compromisso que estabeleci comigo mesmo e com vocês leitores é uma tarefa árdua. Sempre me cobro para tentar manter a qualidade dos textos, embora nem sempre consiga. Mas admiro quem consegue e dedico a eles esse post.



Certamente, muitos artistas compõem suas mais famosas obras após um momento sublime de inspiração. No entanto, nem sempre essa inspiração vem. O que fazer então? Pessoas dotadas de grande talento têm maior chance de "se sentirem inspiradas". Mas e as outras pessoas? Como elas convivem com a falta de ideias?

Acredito que mesmo não sendo um artista, é possível que uma pessoa produza continuamente bons trabalhos. Contudo, para isso é necessário muito empenho e, principalmente, prática.

Um bom exemplo para ilustrar o que tento dizer são as redações que produzimos no colégio. Os professores costumam passar essas tarefas. Todavia, nem sempre estamos inspirados para fazê-las. Às vezes, não gostamos dos temas. E,  às vezes, simplesmente não estamos com vontade. O desafio é, então, produzir mesmo nessas circunstâncias adversas. Porque nem sempre trabalhamos só quando nos convém. Precisamos também saber trabalhar sobre pressão, com prazos. Deixar nossa escrivaninha de lado e sair da zona de conforto.



Assim, voltando ao nosso exemplo, quem costuma escrever sempre tem maior chance de se sair bem quando as ideias estão escassas.  A prática leva a essa melhora. Depois de tanto repetir, o texto pode não ficar brilhante, mas vai estar bom e correto.

Cabe, então, a nós propor novos desafios. Fazer um caminho diferente. Assim, estaremos mais bem preparados para os momentos nos quais as ideias não saem.

Como dizia um professor meu, "posso não ser genial, mas sou extremamente disciplinado".

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Lotado

Dezoito horas em ponto. Chega ao fim mais um dia de trabalho. "Ufa! Agora é só bater o ponto e ir para casa descansar." Mas para isso, é preciso antes pegar o transporte público. No caso, o ônibus.

No caminho até o ponto, as primeiras gotas de chuva começam a cair. À medida que o tempo passa, a chuva vai se intensificando. "Acho que vai vir um temporal".

Quando chega finalmente no ponto, após uma boa caminhada em ruas escuras, é informado que o ônibus que costuma pegar passou há pouco. "Paciência. O jeito é esperar, então."



Enquanto isso, o ponto de ônibus vai enchendo. Muitas pessoas que esqueceram o guarda-chuva tentam, em vão, se proteger. Mas chega um momento em que se molhar é inevitável. Ainda mais com as poças acumuladas no asfalto. Quando um carro passa, é "banho" na certa.

A espera pelo próximo veículo é longa. Quando esse finalmente chega, é aquela correria para ver quem entra primeiro. Nessa hora, não há qualquer respeito por fila e idosos. É cada um por si na base do "empurra-empurra".

Nem todos conseguem entrar no ônibus, uma vez que ele já estava bem cheio. "Que sorte a minha. Hoje consegui parar no 2° degrau da porta de entrada.

O motorista se vê obrigado a fechar as portas, pois já não cabe mais ninguém. Quem ficou do lado de fora protesta. Mas a viagem prossegue assim mesmo.



Para quem conseguiu entrar a situação também não é das melhores. Apesar da chuva, o dia está bem quente. E a lotação contribui para aumentar a sensação de desconforto. Não há como pegar algo na mochila para se distrair. Não há espaço. "O negócio é ficar paradinho, sem se mexer muito e se segurar bem nas curvas para não cair".

Quando finalmente consegue passar pela catraca e já relativamente perto do seu destino, uma senhora sobe no veículo. Ninguém se manifesta nem cede o lugar. "Com licença, pode-se sentar aqui, por favor". E nosso personagem prossegue o resto da viagem em pé.

Depois de longo tempo, ele chega, enfim, ao seu destino. Exausto e encharcado, finalmente poderá descansar. Mas não por muito tempo. Amanhã, começa tudo de novo.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Bienal e a formação de novos leitores

No último domingo, dia 11, chegou ao fim a XV Bienal do Rio. Realizada no Riocentro, o evento bateu, mais uma vez, o recorde de público. Aproximadamente 670 mil pessoas passaram pelos estandes das principais editoras e livrarias do país.



Números à parte, feiras literárias como essa têm vital importância para a formação de um novo público leitor no país. Grande parte desse lotou o Riocentro era composta por jovens, fossem eles em visita escolar ou crianças acompanhadas de seus pais.

O sucesso entre os mais jovens pode ser explicado por uma série de fatores, como a participação de grandes ícones da literatura infantil autografando suas obras, a exemplo de Mauricio de Sousa e Ziraldo, e de nomes internacionais, verdadeiros best-sellers, como Alyson Nöel e Anne Rice.



Cabe destacar ainda a grande oferta de livros infanto-juvenis com descontos significativos. Em vários estandes, era possível ver um espaço dedicado inteiramente aos mais jovens. Nesses, era comum também a presença de bonecos da Turma da Mônica, do Menino Maluquinho, da Luluzinha, dentre outros. Até os mais velhos queriam tirar fotos com os personagens para guardar de recordação.

Todavia, uma das coisas que me impressiona é a quantidade de pessoas presentes na Bienal. Sabemos que o brasileiro é um povo que lê pouco. Segundo um levantamento do Instituto Pró-Livro, a média é de 1,3 livros lidos por pessoa em um período de uma ano. Esse número não leva em conta os livros didáticos e pedagógicos. Assim, como explicar o sucesso de público das feiras literárias? Seria um sinal de que um novo público leitor está sendo formado? Ou a maioria dos presentes em eventos desse porte é composta de curiosos, que estão apenas passeando?

Particularmente, acho que a grande parte desse público é formada por curiosos apenas, que não cultivam o hábito da leitura. Mas espero que esses possam desviar seu olhar de vez em quando para os livros e tenham  -quem sabe- a oportunidade de conhecer o poder transformador das palavras.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Setembro

Na sala de casa, um porta-retrato guarda uma doce lembrança. Em preto-e-branco, a foto já demonstra sinais de envelhecimento. A imagem vai aos poucos se apagando e o papel fica amarelado.



Quem adentra aquela residência, se depara de imediato com a foto do casamento dos donos da casa. A imagem denuncia a alegria daqueles dois, então recém-casados. Mas o tempo também se mostra implacável. O marido já não tem mais aquele penteado certinho, ajeitado com gel para a ocasião. Na verdade, hoje os fios sãos parcos e raros. A esposa, por sua vez, já não tem a mesma elegância de outrora. Acabou engordando um pouco com o passar dos anos.

Todavia, já não temos mais tempo para ficar admirando a foto e se prendendo ao passado. Está na hora de nosso casal dar sua tradicional caminhada.

A chegada até a rua e, posteriormente, até a praça, é complicada. Os dois já não têm a mobilidade de outros tempos. Precisam andar devagar, passo-a-passo. O marido precisa também do auxílio da bengala. Mas nada disso tira a motivação do casal para mais um dia juntos.

Ao chegar à praça, exaustos, procuram um lugar para descansar. Uma moça cede, gentilmente, seu lugar no banco. O casal reluta à primeira oferta, mas acaba cedendo. Sorriem para a jovem como forma de agradecimento.

Sentados e mais aliviados, procuram agora esticar as pernas. Sentem então as primeiras dores da caminhada: nos joelhos, nos pés, nos quadris... Aos poucos, contudo, tentam esquecer a dor e começam a prestar atenção ao redor: o sol batendo, as crianças brincando nos balanços e o vendedor de algodão-doce. Junto a isso tudo, surgem também algumas lembranças. Como a do dia em que se conheceram, das viagens com os amigos, da surpresa da gravidez da esposa, da alegria do primeiro neto...

De repente, algo inusitado acontece: os dois acabam se dando as mãos, sem combinar nada com o outro. Algo espontâneo.



E assim permanecem as mãos, entrelaçadas, por toda aquela manhã ensolarada de setembro.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Bienal e outros eventos

Sempre procurei incentivar os eventos ligados à literatura em nosso país. Por vezes, indiquei alguns deles pelo twitter do blog (@letrasrelicario). Contudo, nem sempre 140 caracteres são o suficiente. Por isso, achei interessante fazer um post com alguns destaques na área. Espero que aproveitem e gostem das sugestões. Quem conhecer alguma outra iniciativa legal, pode entrar em contato conosco.

XV Bienal do Livro Rio



Um dos eventos mais tradicionais do país, a Bienal do Rio atrai até quem não é carioca. Só nesse ano são esperadas 640 000 pessoas no Riocentro. A expectativa de venda de livros também é alta: 2,5 milhões.

Além dos tradicionais estandes das editoras, haverá sessões de contação de histórias, debates e talk-shows. Autores famosos também estarão presentes lançando e autografando suas obras. Escritores nacionais como Maurício de Souza, Laurentino Gomes, Ziraldo, Luís Fernando Verissimo, dentre outros já confirmaram presença. Internacionalmente, o destaque fica por conta de nomes como Hillary Duff, Alysson Noël, Scott Turow, William P. Young e Anne Rice.

O evento ocorrerá entre os dias 1° e 11 de setembro, no Riocentro. O ingresso custará R$ 12,00 a inteira e R$ 6,00 a meia.

É uma oportunidade imperdível para quem gosta de livros . 

A programação completa do evento, bem como sua localização podem ser consultadas no site da Bienal: http://www.bienaldolivro.com.br/


Livraria da Travessa



A tradicional livraria está com uma promoção imperdível. Entre os dias 29 de agosto e 4 de setembro, os clássicos da literatura estão com um desconto de até 50%, válidos tanto para compras online quanto nas próprias livrarias. 

Já destaquei aqui outras vezes a importância da leitura dos clássicos, sejam eles nacionais ou internacionais. Para quem gosta, vale muito a pena dar uma olhada no catálogo. Entre os livros que estão com desconto, "Admirável mundo novo" (Aldoux Huxley), "O primo Basílio" (Eça de Queirós), "O retrato de Dorian Gray" (Oscar Wilde), "Don Quixote" (Miguel de Cervantes) e "Grande sertão: veredas" (Guimarães Rosa)

Para acessar a lista completa dos livros com desconto: http://www.travessa.com.br/wpgEscolhaSeuClassico.aspx


Concurso cultural "Quadrinhos para quem gosta" 



Destinado, principalmente, para os fãs de quadrinhos, o concurso comemora a marca de 50 matérias publicadas esse ano no blog homônimo. Os leitores que responderem de forma mais criativa às perguntas "Qual é sua matéria preferida do blog?" e "O que as histórias em quadrinhos representam para você" ganharão prêmios. O primeiro lugar, por exemplo, leva o livro "Quadrinhos e arte sequencial" de Will Eisner.

Para conhecer melhor as regras do concurso, que vai só até o dia 1°, acesse:  http://quadrinhospraquemgosta.blogspot.com/2011/08/concurso-cultural-quadrinhos-pra-quem.html

Concurso "Eu amo escrever"



O concurso cultural promovido pela loja "Cantão" já está na sua segunda etapa. Após os internautas mandarem seus contos com o tema "Viver bem", agora é a hora do público escolher os melhores contos que passarão ainda por um conselho editorial. Os 10 melhores ganharão Ipad, vales-compra e 5 exemplares do livro publicado.

A votação para o público se encerra no dia 2 de setembro.

Eu já votei no meu preferido. E você? http://www.li3.com.br/clientes/euamoescrever/sobre.php

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Nas entrelinhas 2

No post de hoje, daremos continuidade a uma seção aqui inaugurada cujo objetivo é compreender as letras das canções brasileiras. Após uma primeira experiência bem-sucedida com a canção "Daniel na cova dos leões" (Legião Urbana), agora é a vez d'Os Paralamas do Sucesso, com "Luís Inácio (300 picaretas)".

Aproveitamos para lembrar que vocês, leitores, também podem sugerir músicas para análise ou qualquer outro tema para um post. Para isso, basta nos mandar um e-mail, fazer um comentário ou ainda seguir nosso blog no twitter (@letrasrelicario)



Luís Inácio (300 picaretas)


Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou

Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da nação
É lobby, é conchavo, é propina e jeton
Variações do mesmo tema sem sair do tom
Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída
Pra fazer justiça uma vez na vida
Eu me vali deste discurso panfletário
Mas a minha burrice faz aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par se sapatos, um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados
Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez
O congresso continua a serviço de vocês
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão
Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição
Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena
João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM e de televisão
Rádio FM e televisão


Essa canção foi composta por Hebert Vianna, vocalista d'Os Paralamas do Sucesso, no ano de 1993 e lançada posteriormente, em 1995, no CD "Vamo Batê Lata".

O mote da música foi uma declaração de Luís Inácio Lula da Silva, depois presidente da República, na qual afirmava que "há no Congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses".




Como não podia deixar de ser, tal declaração teve grande repercussão na mídia. A execução pública da canção chegou a ser proibida por um procurador da Câmara e muitos parlamentares apoiaram a ideia. No final, a música acabou sendo proibida nas rádios e nas lojas.

A canção faz menção a alguns esquemas de corrupção ("é lobby, é conchavo, é propina e jeton"), como por exemplo, os "Anões do orçamento", escândalo de fraudes nos recursos da União ("Papai, quando eu crescer eu quero ser anão Pra  roubar, renunciar, voltar na próxima eleição"). Cita nominalmente ainda dois deputados envolvidos nesse esquema (João Alves de Almeida e Genebaldo Correia) e o ex-senador da Paraíba, Humberto Lucena.

Posteriormente, no ano de 2005, a música foi uma das mais lembradas para descrever a crise política instalada com o Mensalão, mesmo após mais de 10 anos de ser lançada.



Saindo um pouco da análise da letra propriamente dita, a canção pode nos levar a importantes observações. Primeiramente, podemos perceber que os escândalos políticos não são novidades e já existiam em 1995 quando a música foi lançada. Outro tópico relevante é a questão da liberdade de expressão. Por que a música foi censurada? Tal medida é constitucional?

Por fim, percebo que há uma escassez atual de músicas que falem sobre as questões político-sociais. Será uma mera coincidência ou um reflexo de que a sociedade não se interessa pelo assunto?

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

No púlpito

"A necessidade obrigatória de falar e o embaraço de nada ter para falar são duas coisas capazes de tornar ridículo ainda mesmo o maior homem" (Voltaire)

A capacidade de se expressar oralmente ("o falar bem") é uma habilidade perseguida há muito tempo. Na Grécia antiga, os sofistas já tinham consciência disso e ministravam aulas de retóricas para os jovens. Naquela época, saber se expressar bem era um requisito fundamental para participar das assembleias e dos debates públicos. No entanto, alguns, como Sócrates, criticavam esse ensino. Para esse filósofo, os sofistas "floreavam" e nada diziam. Era um discuso vazio, que visava apenas convencer o outro por meio da persuasão.



A sociedade sempre sentiu necessidade de se expressar, de se comunicar com o outro. Antigamente, era comum termos uma pessoa mais velha (o narrador) que contava histórias e, com elas, disseminava as tradições e as crenças de um povo. Contudo, essa prática foi desaparecendo com o passar dos tempos. Walter Benjamin chegou a falar sobre a morte do narrador. Segundo esse teórico, "a arte de narrar está em vias de extinção. São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente. Quando se pede num grupo que alguém narre alguma coisa, o embaraço se generaliza".

Embora esse texto de Benjamin e o exemplo dos sofistas sejam antigos, ainda é possível encontrar algumas semelhanças desses com a nossa realidade. Acusados de falar, falar e nada dizer, os sofistas podem ser comparados com nossos políticos. Quantos governantes se utilizam de construções mais complexas, palavras eruditas e no fundo fazem um discurso vazio?



Quanto ao exemplo de Benjamin, podemos ver hoje o embaraço que falar causa em algumas pessoas. Não me refiro aos tímidos, pois acredito ser esse um caso diferente. Refiro-me a grande parte de nossa população que é incapaz de conseguir expressar com clareza sua opinião. Um ótimo exemplo são os jogadores de futebol. É impressionante a dificuldade deles para responder uma simples pergunta. Dado esse problema, muitos acabam por recorrer aos bordões "com certeza" e "vamos fazer o nosso melhor para conseguir os três pontos" mesmo que a pergunta não tenha nada a ver.



Acredito que a dificuldade de falar está diretamente relacionada à (falta) de leitura. Uma pessoa que não lê encontra problemas ao tentar construir uma simples frase e escrever um texto. E recursos como falar demais sem nada dizer e não responder ao que foi perguntado são apenas estratégias encontradas para abafar uma verdade: nosso povo não lê.