quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O dia decisivo


"Vestibular: Relativo à vestíbulo; Espaço entre a rua e a entrada de um edifício" (Dicionário Aurélio)

"É amanhã"- pensa ele. Amanhã pode ser o dia decisivo de sua vida. Se tudo der certo, vai deixar de ser um mero estudante e realizará seu sonho de entrar numa universidade. Assumirá responsabilidades ainda maiores. Recompensará o esforço de seus pais, humildes, que tanto trabalharam para garantir a melhor educação possível para o garoto prodígio deles.

Mas ainda é noite. Precisa dormir bem e estar relaxado para a prova do dia seguinte. "Amanhã tudo tem que dar certo", pensa ele. "E vai dar"- complementa, mas não com a mesma certeza de outrora.

Antes de se deitar, ele tem como hábito ouvir uma música para aliviar a tensão. Mas receoso como ele só, prefere pular essa parte, excepcionalmente hoje. Vai que a música o deixa agitado. Ou pior ainda, vai que ele fica com ela na cabeça durante a prova?


Vai direto então para sua cama, sempre aconchegante. Bota a cabeça no travesseiro, fecha os olhos e espera o sono vir, como sempre. Está cansado, mas o sono não chega. "Estranho, isso nunca me aconteceu antes"-se indaga. Ao invés de dormir, milhões de coisas lhe vêm à cabeça. Toda a matéria que aprendeu na escola passa pela sua mente, como um filme. Nela vem também o receio, a incerteza. E se não conseguir? E se não fizer uma boa prova? Terá paciência para estudar tudo de novo, durante um ano inteiro? Um certo nervosismo começa a aparecer. Sente-se indisposto. Fica assim durante horas sobre a cama. Não consegue embalar no sono. Quando o faz, já é madrugada.

Dia seguinte. Seu pai o acorda cedo. A prova é pela manhã. Mas quem disse que conseguiu dormir direito? No máximo, alguns cochilos. Mesmo com aquela cara inchada e com olheiras, está de pé.

Toma um café da manhã reforçado. Capricha no café para ver se afasta o sono. Toma um banho gelado e vai se vestir. Escolhe meticulosamente a roupa. "Essa meia não, porque dá azar". Confere os últimos detalhes: documentos, lanche, material...

Está na hora. Seus pais o abraçam. Dizem para ficar tranquilo que tudo vai dar certo. Nesse abraço, uma lágrima escorre pelo seu rosto. Não quer decepcionar sua família.



Chega no local onde fará o exame. Os portões ainda não abriram. Uma fila imensa espera do lado de fora. Se junta à ela. Percebe que as pessoas, em sua maioria, são mais velhas que ele. "Devem estar tentando pela segunda ou terceira vez", opina. Mas todas estão tão descontraídas, conversando entre si. Ele, no entanto, prefere ficar na dele, quieto.

O portão se abre. Rapidamente, acha sua sala. Escolhe um lugar estratégico, nem muito perto, nem muito longe do ar-condicionado. Não quer sentir frio. A sala se enche. Lá estão várias pessoas que alimentam um mesmo sonho: ingressar em uma universidade.

O sinal é dado. O fiscal lhe entrega a prova. Ele fecha os olhos e respira fundo. "Vamos lá", diz ele mentalmente.
 Questão I: Cite dois fatores que motivaram...

2 comentários:

  1. Amei o texto! Ele retrata com perfeição o sentimento de nervosismo que toma conta da gente.
    Além de muito bem escrito, o texto tem um ritmo, o que é muito importante na leitura. Sem dúvidas, maravilhoso.

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  2. Show!
    Nossa, será que vou me sentir assim? que coisa...
    Bem, estudando estou, e muito. Vamo Lá!
    Ótimo texto

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