quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma cidade chamada Brevidade

"Cada lágrima ensina-nos uma verdade" (Ugo Foscolo)
Brevidade era uma pequena cidade localizada bem no interior do país. Era tão minúscula que não constava na maioria dos mapas da região. Mas, para os habitantes, isso era irrelevante: a verdade é que todos tinham Brevidade no coração.

A cidade vivia basicamente da agricultura familiar e do artesanato local. Mas o grande símbolo, motivo de orgulho dos moradores, era mesmo a praça principal. Não que a praça fosse uma grande obra arquitetônica ou tivesse imensos jardins. No entanto, era um local agradável, bucólico, que servia como ponto de encontro dos locais, que passavam horas sentados em seus bancos, jogando conversa fora.

Na praça principal havia uma igreja, que ficava sempre cheia - principalmente aos domingos - um parquinho onde as crianças se divertiam e uma fonte. Por sinal, essa última é o principal elemento dessa história.

Já pela manhã, várias pessoas se reuniam ao redor da fonte. O senhor idoso, já de cadeira de rodas, que vinha junto de sua acompanhante aproveitar o sol; as babás que traziam as crianças para se divertir e um outro casal apaixonado que passava a noite ali.


A fonte era, de fato, muito bonita. Toda detalhada, sempre estava jorrando água. Quando o vento batia alguns desavisados até eram atingidos por suas gotas. Não havia quem não ficasse encantado com o lugar.

À noite, depois da missa, a população também se reunia na praça ao redor da fonte. Comentavam sobre a missa, sobre o dia de cada um, fofocavam...Era um verdadeiro ponto de encontro.

Contudo, numa certa madrugada o sol não nasceu como de costume. Uma névoa estranha cobria a cidade. Conforme as horas iam passando, a cidade continuava vazia. Seu José foi um dos que saíram de casa. Logo percebeu o porquê daquele silêncio.  As casas estavam quase todas destruídas. Vários moradores sobre os escombros. Uma poeira insuportável pairava no ar e irritava os olhos. Seu José, carpinteiro da região, ficou impressionado com o que via. Foi andando até a praça principal e ficou ainda mais arrasado: a igreja já não estava mais de pé, nem o parquinho. Só restava mesmo aquela velha fonte. Mas ela não jorrava mais água.



A cidade teve que ser toda reconstruída. Os poucos moradores restantes arrecadaram dinheiro para ajudar. Aos poucos, bem lentamente, a população tentava retomar suas vidas. A praça foi refeita, uma nova igreja e casas foram construídas. No entanto, algo de curioso intrigava os moradores. A fonte nunca mais tinha jorrado água e estava toda suja. Por mais que tentassem revitalizá-la, ela parecia insistir: nada de água.

Muitos anos se passaram assim, sem uma  única gota na fonte. As pessoas já não se reuniam ao seu redor e tinham perdido as esperanças. Até que um dia,  na "reinauguração oficial" da cidade,  festa promovida pela prefeitura, ela voltou. Aos pouquinhos, podiam-se ver pequenas gotas de água saindo. Quase imperceptíveis, mas saíam. A população, ao saber do ocorrido, logo se dirigiu ao local. E por um momento, José - que tanto ajudara na reconstrução da cidade- teve certeza que não era uma água qualquer. A fonte parecia soluçar e chorar pelo desastre que ocorrera na cidade.  Parecia ter adormecido de seu luto pelo senhor de cadeira de rodas, o casal de namorados, as babás com as crianças... As gotas d'água da fonte eram, na verdade, lágrimas.

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