quinta-feira, 28 de abril de 2011

Gentileza (deveria) gerar gentileza

"A minha religião é muito simples. A minha religião é a gentileza" (Dalai Lama)
Peço desculpas àqueles que não são religiosos, mas permitam-me recorrer a uma passagem da Bíblia para ilustrar o tema dessa semana.



Certa vez, Jesus estava caminhando quando se viu diante de 10 leprosos. Esses, por sua vez, ao reconhecê-lo pediram ajuda. Estavam cansados de suas moléstias e de serem rejeitados pela sociedade. Jesus, então, decidiu agir e os curou. No entanto, enquanto a maioria foi celebrar o milagre e não voltou, um único optou por ficar e agradeceu a Jesus.

Guardadas às devidas proporções, é claro, também vemos cenas semelhantes a essa no dia-a-dia. Hoje, quem pratica uma boa ação e ajuda os outros é, muitas vezes, solenemente ignorado. Parece que as pessoas não sabem mais agradecer. Não que isso seja obrigatório, mas vale lembrar que "gentileza gera gentileza".

Faça o teste: entre em um transporte público, sorria e diga bom dia. Grande chance de ser ignorado. Ou então se ofereça para segurar uma daquelas sacolas enormes. Ou melhor ainda, ceda seu lugar a uma pessoa mais velha. Provavelmente, você não ouvirá nenhum agradecimento.



Não sei se é pela correria do dia-a-dia ou pelo estresse das pessoas, mas a gentileza parece estar fora de moda. Talvez o problema seja mesmo a educação.

Esse assunto deveria receber maior destaque, para debate e reflexão. Assim, da próxima vez que entrar no metrô, que tal esperar os passageiros desembarcarem primeiro?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O estagiário

 "Todo homem trabalhador tem sempre uma oportunidade" (H. Hubbert)
Ele acabou de entrar na faculdade. Ainda tem cara de menino e já se vê diante de um grande desafio: encontrar um estágio. Precisa de dinheiro e essa foi a solução encontrada. Além disso, em sua universidade é obrigatório estagiar desde cedo.

Contudo, está completamente perdido. Os problemas já começam na hora de montar o currículo. O que escrever? Depois de muita pesquisa e horas pensando sobre isso, percebe que o seu está quase em branco. A maior parte mesmo é a dos dados pessoais.



"Tentativa de currículo" devidamente feita, chega a hora de distribuí-lo. Mas para quem? Entra nesses sites com milhares de ofertas de emprego e se cadastra. Em breve, várias pessoas terão acesso a seus dados e "ele será oferecido" até para empresas que mal conhece e que não têm nada a ver com sua área.

Depois é ficar de olho no telefone e na caixa de e-mails para ver se alguém retorna o contato. Enquanto isso não ocorre, vai vivendo de incertezas, sonhando com uma entrevista de estágio.



Mal sabe ele o que lhe espera. Pode conseguir um ótimo estágio, ficar servindo café ou nada.

E, claro, no dia em que finalmente conseguir o estágio vai conhecer a máxima: a culpa é sempre do estagiário.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

13

Não sei como aguentei tanto tempo sem falar do Botafogo. Achei, então, uma data conveniente. Não é um post só para os botafoguenses. É para todos que admiram o futebol.

Todo botafoguense é supersticioso. Se você não é, esqueça, você não é alvinegro de verdade.

Ele chegou no início de 2010. Contratação internacional. O Botafogo voltava a ocupar as primeiras páginas dos jornais esportivos. Loco Abreu foi recebido já com festa no aeroporto e não foi diferente na sede de General Severiano. Poucas vezes a torcida se mobilizou tanto por uma jogador que muitos nem conheciam.

Logo, de início, ele mostrou personalidade. Ignorou as lendas acerca do número 13 e pediu para jogar com a camisa. Mostrou simpatia também ao convidar Zagallo para sua apresentação.

Vendo a boa repercussão na mídia, o marketing alvinegro se apressou e lançou uma camisa em sua homenagem. Confesso que fiquei receosa: "Ele nem jogou ainda. E se não der certo?"



Loco Abreu estreou no dia 24 de janeiro contra o Vasco. Lembro do dia porque era meu aniversário. Foi tenebroso. O Botafogo foi humilhado em pleno Engenhão. Abreu quase não tocou na bola e foi logo substituído. Pensei: "Já começou errado".

Felizmente, a situação foi mudando. Aos poucos, o time foi se recuperando do trauma e começou a vencer. Sempre no tradicional estilo inglês: "chuveirinho" para área, gol do Loco.

De repente, para a surpresa de todos, o Botafogo chegava à final da Taça Guanabara. O adversário, o mesmo Vasco. Eu não estava no país e fiquei ainda mais nervosa. Mas tinha uma certeza: não perderíamos de novo. O time aprendera a lição. Não deu outra: 2x0 Botafogo, com gol de pênalti cobrado com categoria por Abreu. Título alvinegro.

A Taça Rio transcorreu sem maiores problemas. Novamente, o Botafogo estava na final do turno. Mas, dessa vez, o adversário era o Flamengo. Não era um time qualquer. Era o time mais exaltado pela imprensa com o famoso "Império do Amor". E o Botafogo vinha de um histórico de derrota em finais para eles. A história se repetia. O Botafogo começava ganhando e o Flamengo virava no fim, sempre com um pênalti a favor. Mas nos outros anos não havia um personagem: Loco Abreu. Ele sabia que não era craque, mas prometia dar o seu máximo. E deu.



Pênalti  para o Botafogo. Herrera era o batedor oficial. Mas Loco pegou a bola e... Sutileza. Cavadinha. Travessão. Gol. No meio. Loucura da torcida. Botafogo campeão carioca de 2010. Esquecendo sua sina, virando a página, com a ousadia de um uruguaio.

Acho que nunca comemorei tanto um título. A ferida tinha cicatrizado.

Abreu também deu muitas alegrias ao ser convocado para disputar a Copa do Mundo. O Botafogo não cedia atletas há um bom tempo. Loco era reserva. Quase não entrava nos jogos. Mas seu carisma fez com que muitos botafoguenses "adotassem" a seleção uruguaia. Deu certo. A celeste olímpica ficou em quarto lugar.

E contra Gana, tive mais orgulho ainda. Abreu repetiu a cavadinha e classificou o país para as semifinais. Vibrei muito. No dia seguinte, Loco era destaque na imprensa internacional e ajudava a divulgar o nome do Botafogo. Aqui, umas das manchetes foi: "Só o Botafogo salva".

Loco Abreu voltou como herói e ajudou na boa campanha no Brasileiro com gols decisivos, como contra o Santos.



Loco Abreu é marcante. Alto, tinha tudo para ser desengonçado e sem habilidade. Mas não é. Tem visão de jogo. É esclarecido, sabe se expressar bem. Ousado, é capaz de errar uma cavadinha num clássico e repeti-la em seguida. Supersticioso, como todo bom alvinegro deve ser.

Abreu resgatou o orgulho alvinegro. O orgulho de vestir a camisa alvinegra. Gracias, Washington Sebastián
Abreu Gallo.

PS: Hoje é dia 13 de Abreu (ops, de Abril).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Uma ferida, uma história

"A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda" (Confúcio)
Niccolò Tommaseo dizia que "o homem que a dor não educou será sempre uma criança". Concordo. E, nesse caso particular, os mais velhos têm muito a ensinar aos jovens.


Uma pessoa mais velha sempre tem uma experiência interessante para contar. Vivenciou e presenciou muitas coisas que os jovens não tiveram oportunidade: guerras, mudanças de regime, instabilidade financeira... Passaram por períodos difíceis e estão aí para dar o seu testemunho, contar sua vida.




Os mais velhos também já aprenderam a conviver com as mágoas e as feridas na alma que demoram a cicatrizar. E quando me refiro aos mais velhos, não faço menção apenas à idade das pessoas, mas sim à quantidade de experiências e histórias vividas. Sim, porque às vezes uma pessoas na faixa dos 30 anos já é mais "vivida" do que uma de cinquenta.


O ex-jogador de futebol Ronaldo é o exemplo ideal para tentar ilustrar essa minha ideia. Ainda jovem, teve que operar o joelho e ficar um bom tempo parado. Com o passar dos anos, as operações continuaram e renderam enormes cicatrizes em seus dois joelhos. Essas cicatrizes, certamente, também contam histórias. Por sinal, uma bela história de superação, de retomada de uma carreira brilhante.




Mas não se precisa ir tão longe para achar uma ferida que renda uma boa história. Um menino que cai de sua bicicleta e rala os joelhos, uma pessoa que perdeu um familiar querido e um rapaz que brigou com a namorada. Todos esses estão feridos, seja no sentido literal ou não. Todos esses terão boas histórias para 
contar: de como foi a queda, a perda e a briga.


E quando alguém conta uma história convém escutar. Isso ajuda na "cicatrização da ferida", deixando de ser "criança".