terça-feira, 30 de agosto de 2011

Bienal e outros eventos

Sempre procurei incentivar os eventos ligados à literatura em nosso país. Por vezes, indiquei alguns deles pelo twitter do blog (@letrasrelicario). Contudo, nem sempre 140 caracteres são o suficiente. Por isso, achei interessante fazer um post com alguns destaques na área. Espero que aproveitem e gostem das sugestões. Quem conhecer alguma outra iniciativa legal, pode entrar em contato conosco.

XV Bienal do Livro Rio



Um dos eventos mais tradicionais do país, a Bienal do Rio atrai até quem não é carioca. Só nesse ano são esperadas 640 000 pessoas no Riocentro. A expectativa de venda de livros também é alta: 2,5 milhões.

Além dos tradicionais estandes das editoras, haverá sessões de contação de histórias, debates e talk-shows. Autores famosos também estarão presentes lançando e autografando suas obras. Escritores nacionais como Maurício de Souza, Laurentino Gomes, Ziraldo, Luís Fernando Verissimo, dentre outros já confirmaram presença. Internacionalmente, o destaque fica por conta de nomes como Hillary Duff, Alysson Noël, Scott Turow, William P. Young e Anne Rice.

O evento ocorrerá entre os dias 1° e 11 de setembro, no Riocentro. O ingresso custará R$ 12,00 a inteira e R$ 6,00 a meia.

É uma oportunidade imperdível para quem gosta de livros . 

A programação completa do evento, bem como sua localização podem ser consultadas no site da Bienal: http://www.bienaldolivro.com.br/


Livraria da Travessa



A tradicional livraria está com uma promoção imperdível. Entre os dias 29 de agosto e 4 de setembro, os clássicos da literatura estão com um desconto de até 50%, válidos tanto para compras online quanto nas próprias livrarias. 

Já destaquei aqui outras vezes a importância da leitura dos clássicos, sejam eles nacionais ou internacionais. Para quem gosta, vale muito a pena dar uma olhada no catálogo. Entre os livros que estão com desconto, "Admirável mundo novo" (Aldoux Huxley), "O primo Basílio" (Eça de Queirós), "O retrato de Dorian Gray" (Oscar Wilde), "Don Quixote" (Miguel de Cervantes) e "Grande sertão: veredas" (Guimarães Rosa)

Para acessar a lista completa dos livros com desconto: http://www.travessa.com.br/wpgEscolhaSeuClassico.aspx


Concurso cultural "Quadrinhos para quem gosta" 



Destinado, principalmente, para os fãs de quadrinhos, o concurso comemora a marca de 50 matérias publicadas esse ano no blog homônimo. Os leitores que responderem de forma mais criativa às perguntas "Qual é sua matéria preferida do blog?" e "O que as histórias em quadrinhos representam para você" ganharão prêmios. O primeiro lugar, por exemplo, leva o livro "Quadrinhos e arte sequencial" de Will Eisner.

Para conhecer melhor as regras do concurso, que vai só até o dia 1°, acesse:  http://quadrinhospraquemgosta.blogspot.com/2011/08/concurso-cultural-quadrinhos-pra-quem.html

Concurso "Eu amo escrever"



O concurso cultural promovido pela loja "Cantão" já está na sua segunda etapa. Após os internautas mandarem seus contos com o tema "Viver bem", agora é a hora do público escolher os melhores contos que passarão ainda por um conselho editorial. Os 10 melhores ganharão Ipad, vales-compra e 5 exemplares do livro publicado.

A votação para o público se encerra no dia 2 de setembro.

Eu já votei no meu preferido. E você? http://www.li3.com.br/clientes/euamoescrever/sobre.php

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Nas entrelinhas 2

No post de hoje, daremos continuidade a uma seção aqui inaugurada cujo objetivo é compreender as letras das canções brasileiras. Após uma primeira experiência bem-sucedida com a canção "Daniel na cova dos leões" (Legião Urbana), agora é a vez d'Os Paralamas do Sucesso, com "Luís Inácio (300 picaretas)".

Aproveitamos para lembrar que vocês, leitores, também podem sugerir músicas para análise ou qualquer outro tema para um post. Para isso, basta nos mandar um e-mail, fazer um comentário ou ainda seguir nosso blog no twitter (@letrasrelicario)



Luís Inácio (300 picaretas)


Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou

Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da nação
É lobby, é conchavo, é propina e jeton
Variações do mesmo tema sem sair do tom
Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída
Pra fazer justiça uma vez na vida
Eu me vali deste discurso panfletário
Mas a minha burrice faz aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par se sapatos, um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados
Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez
O congresso continua a serviço de vocês
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão
Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição
Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena
João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM e de televisão
Rádio FM e televisão


Essa canção foi composta por Hebert Vianna, vocalista d'Os Paralamas do Sucesso, no ano de 1993 e lançada posteriormente, em 1995, no CD "Vamo Batê Lata".

O mote da música foi uma declaração de Luís Inácio Lula da Silva, depois presidente da República, na qual afirmava que "há no Congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses".




Como não podia deixar de ser, tal declaração teve grande repercussão na mídia. A execução pública da canção chegou a ser proibida por um procurador da Câmara e muitos parlamentares apoiaram a ideia. No final, a música acabou sendo proibida nas rádios e nas lojas.

A canção faz menção a alguns esquemas de corrupção ("é lobby, é conchavo, é propina e jeton"), como por exemplo, os "Anões do orçamento", escândalo de fraudes nos recursos da União ("Papai, quando eu crescer eu quero ser anão Pra  roubar, renunciar, voltar na próxima eleição"). Cita nominalmente ainda dois deputados envolvidos nesse esquema (João Alves de Almeida e Genebaldo Correia) e o ex-senador da Paraíba, Humberto Lucena.

Posteriormente, no ano de 2005, a música foi uma das mais lembradas para descrever a crise política instalada com o Mensalão, mesmo após mais de 10 anos de ser lançada.



Saindo um pouco da análise da letra propriamente dita, a canção pode nos levar a importantes observações. Primeiramente, podemos perceber que os escândalos políticos não são novidades e já existiam em 1995 quando a música foi lançada. Outro tópico relevante é a questão da liberdade de expressão. Por que a música foi censurada? Tal medida é constitucional?

Por fim, percebo que há uma escassez atual de músicas que falem sobre as questões político-sociais. Será uma mera coincidência ou um reflexo de que a sociedade não se interessa pelo assunto?

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

No púlpito

"A necessidade obrigatória de falar e o embaraço de nada ter para falar são duas coisas capazes de tornar ridículo ainda mesmo o maior homem" (Voltaire)

A capacidade de se expressar oralmente ("o falar bem") é uma habilidade perseguida há muito tempo. Na Grécia antiga, os sofistas já tinham consciência disso e ministravam aulas de retóricas para os jovens. Naquela época, saber se expressar bem era um requisito fundamental para participar das assembleias e dos debates públicos. No entanto, alguns, como Sócrates, criticavam esse ensino. Para esse filósofo, os sofistas "floreavam" e nada diziam. Era um discuso vazio, que visava apenas convencer o outro por meio da persuasão.



A sociedade sempre sentiu necessidade de se expressar, de se comunicar com o outro. Antigamente, era comum termos uma pessoa mais velha (o narrador) que contava histórias e, com elas, disseminava as tradições e as crenças de um povo. Contudo, essa prática foi desaparecendo com o passar dos tempos. Walter Benjamin chegou a falar sobre a morte do narrador. Segundo esse teórico, "a arte de narrar está em vias de extinção. São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente. Quando se pede num grupo que alguém narre alguma coisa, o embaraço se generaliza".

Embora esse texto de Benjamin e o exemplo dos sofistas sejam antigos, ainda é possível encontrar algumas semelhanças desses com a nossa realidade. Acusados de falar, falar e nada dizer, os sofistas podem ser comparados com nossos políticos. Quantos governantes se utilizam de construções mais complexas, palavras eruditas e no fundo fazem um discurso vazio?



Quanto ao exemplo de Benjamin, podemos ver hoje o embaraço que falar causa em algumas pessoas. Não me refiro aos tímidos, pois acredito ser esse um caso diferente. Refiro-me a grande parte de nossa população que é incapaz de conseguir expressar com clareza sua opinião. Um ótimo exemplo são os jogadores de futebol. É impressionante a dificuldade deles para responder uma simples pergunta. Dado esse problema, muitos acabam por recorrer aos bordões "com certeza" e "vamos fazer o nosso melhor para conseguir os três pontos" mesmo que a pergunta não tenha nada a ver.



Acredito que a dificuldade de falar está diretamente relacionada à (falta) de leitura. Uma pessoa que não lê encontra problemas ao tentar construir uma simples frase e escrever um texto. E recursos como falar demais sem nada dizer e não responder ao que foi perguntado são apenas estratégias encontradas para abafar uma verdade: nosso povo não lê.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O que é arte?

"Os espelhos são usados para ver o rosto, a arte para ver a alma" (George Bernard Shaw)

Arte é algo tão difícil de explicar que nem nos bons dicionários consegui encontrar uma boa definição. Uma das  que encontrei afirma que a arte é a "expressão de um ideal de beleza nas obras humanas, obras de arte". Não gostei muito dessa definição, mas como não encontrei melhor...



Ao meu ver, o grande problema está na pergunta "O que é arte?". Sei que há oficialmente sete artes, a saber: música, dança/coreografia, pintura, escultura, teatro, literatura e cinema. No entanto, sei que elas não são tratadas da mesma forma, não recebem o mesmo destaque na mídia. Nos cadernos de artes dos jornais, por exemplo, o próprio nome "denuncia" o que que será mais abordado. É o caso do suplemento "Prosa e Verso" do jornal O Globo.




Há também algumas atividades que reivindicam seu lugar como arte, como a fotografia, os quadrinhos, as artes digitais. É uma discussão ampla e polêmica.

Confesso que sou meio chata ao avaliar uma obra de arte. Para eu admirá-la, é necessário que essa faça sentido.  Sei que esse não é o propósito de uma arte, mas não consigo aceitar passivamente isso.



O penico exposto por Marcel  Duchamp e o conhecido "quadrado branco sobre fundo branco" são consideradas artes, embora nem todos as vejam com bons olhos. Outros exemplos são os quadros de Jackson Pollock. O que para muitos são obras de arte geniais, uma vez que estão carregadas de simbologia, para outros não passam de vários borrões, sem sentido. Quem costuma defender esse último ponto de vista sempre se pergunta "Se estivesse nascido antes e fizesse a mesma coisa, teria reconhecimento? Ficaria famoso por isso?"


Muitos questionam também se a publicidade não seria uma arte. Particularmente, acho que esse é um caso muito específico. Há propagandas que pouco dizem. Contudo, também não podemos nos esquecer da criatividade das campanhas do Hortifruti, dos bichinhos da Parmalat...



Mas aí eu pergunto a você, leitor? O que você considera arte? Ou a arte está nos olhos de quem vê?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Teto de vidro

                                                       "Toda a hipocrisia
                                                        E toda a afetação
                                                        Todo roubo e toda indiferença
                                                        Vamos celebrar epidemias 
                                                        É a festa da torcida campeã" (Renato Russo)


Manchete de jornal brasileiro se referindo a um esquema de corrupção já virou uma constante. Os casos são tantos (a maioria não é descoberto) que temo o dia em que  eles não apareçam mais nos jornais. Seria a derrota definitiva. Passaríamos, então, a admitir que essas falcatruas não são mais novidades e, portanto, não merecem virar notícia. 

O caso mais recente aconteceu no DNIT (Departamento Nacional de InfraEstrutura de Transportes). Mas também temos outros exemplos: mensalão, anões do orçamento e mensalinho. Cito só esses três, mas poderia tranquilamente escrever um livro só com exemplos de crimes de desvios de verbas, nepotismo, dentre outros.


Quando um caso desses é descoberto e ganha destaque na mídia, logo surge uma corrente de (falsos) moralistas. Combatem as práticas ilícitas, pedem punição exemplar, promovem até carreatas. Depois de algum tempo, acabam "esquecendo o ocorrido" e fica por isso mesmo...

Contudo, meu objetivo não é atentar para esses crimes (algo que a mídia já faz), mas sim para esses moralistas. Certa vez me disseram que você só pode reclamar de uma coisa se você é um exemplo naquilo que faz. Para tentar deixar essa ideia mais clara, recorro a um exemplo. Um cara é contra os políticos, pois acha que são todos corruptos. Tem horror a eles. No entanto, não hesita em oferecer um "cafezinho" para o policial quando é parado num blitz. Fica, então, minha pergunta: isso também não é corrupção?

Ainda que em locais e níveis diferentes, sou contra todo e qualquer tipo de corrupção. Afirmativa muito fácil essa de se fazer, não é mesmo? Mas quando digo "a todo e qualquer tipo" falo também de se empregar parentes numa mesma empresa, fraudar provas e qualquer desrespeito às "normas do jogo".


Infelizmente, sei que a maioria das pessoas não concorda com essa minha opinião. "Que mal tem se todo mundo faz, não é?"- alguns comentam. Outros defendem que como não é possível acabar com essas práticas, por que também não adotá-las para se beneficiar, uma vez que "ninguém é punido mesmo"? Pensamento no melhor estilo "se não pode vencê-los, junte-se a eles".

Toda essa hipocrisia com que convivemos faz com que o adjetivo honesto passe a ser um elogio. Particularmente, acho que ser honesto deveria ser uma obrigação e não uma qualidade. Mas muita gente se aproveita disso e se finge de malandro para se dar bem, fazendo uso daquele "velho jeitinho brasileiro".

Todavia, fica aqui o aviso: quem tem teto de vidro...