quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Inspiração

Quando comecei a desenvolver esse blog, em dezembro de 2010, estabeleci como meta escrever pelo menos, um texto por semana. Geralmente, as publicações ocorrem nas quintas-feiras, salvo em alguns casos específicos.

Esse compromisso que estabeleci comigo mesmo e com vocês leitores é uma tarefa árdua. Sempre me cobro para tentar manter a qualidade dos textos, embora nem sempre consiga. Mas admiro quem consegue e dedico a eles esse post.



Certamente, muitos artistas compõem suas mais famosas obras após um momento sublime de inspiração. No entanto, nem sempre essa inspiração vem. O que fazer então? Pessoas dotadas de grande talento têm maior chance de "se sentirem inspiradas". Mas e as outras pessoas? Como elas convivem com a falta de ideias?

Acredito que mesmo não sendo um artista, é possível que uma pessoa produza continuamente bons trabalhos. Contudo, para isso é necessário muito empenho e, principalmente, prática.

Um bom exemplo para ilustrar o que tento dizer são as redações que produzimos no colégio. Os professores costumam passar essas tarefas. Todavia, nem sempre estamos inspirados para fazê-las. Às vezes, não gostamos dos temas. E,  às vezes, simplesmente não estamos com vontade. O desafio é, então, produzir mesmo nessas circunstâncias adversas. Porque nem sempre trabalhamos só quando nos convém. Precisamos também saber trabalhar sobre pressão, com prazos. Deixar nossa escrivaninha de lado e sair da zona de conforto.



Assim, voltando ao nosso exemplo, quem costuma escrever sempre tem maior chance de se sair bem quando as ideias estão escassas.  A prática leva a essa melhora. Depois de tanto repetir, o texto pode não ficar brilhante, mas vai estar bom e correto.

Cabe, então, a nós propor novos desafios. Fazer um caminho diferente. Assim, estaremos mais bem preparados para os momentos nos quais as ideias não saem.

Como dizia um professor meu, "posso não ser genial, mas sou extremamente disciplinado".

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Lotado

Dezoito horas em ponto. Chega ao fim mais um dia de trabalho. "Ufa! Agora é só bater o ponto e ir para casa descansar." Mas para isso, é preciso antes pegar o transporte público. No caso, o ônibus.

No caminho até o ponto, as primeiras gotas de chuva começam a cair. À medida que o tempo passa, a chuva vai se intensificando. "Acho que vai vir um temporal".

Quando chega finalmente no ponto, após uma boa caminhada em ruas escuras, é informado que o ônibus que costuma pegar passou há pouco. "Paciência. O jeito é esperar, então."



Enquanto isso, o ponto de ônibus vai enchendo. Muitas pessoas que esqueceram o guarda-chuva tentam, em vão, se proteger. Mas chega um momento em que se molhar é inevitável. Ainda mais com as poças acumuladas no asfalto. Quando um carro passa, é "banho" na certa.

A espera pelo próximo veículo é longa. Quando esse finalmente chega, é aquela correria para ver quem entra primeiro. Nessa hora, não há qualquer respeito por fila e idosos. É cada um por si na base do "empurra-empurra".

Nem todos conseguem entrar no ônibus, uma vez que ele já estava bem cheio. "Que sorte a minha. Hoje consegui parar no 2° degrau da porta de entrada.

O motorista se vê obrigado a fechar as portas, pois já não cabe mais ninguém. Quem ficou do lado de fora protesta. Mas a viagem prossegue assim mesmo.



Para quem conseguiu entrar a situação também não é das melhores. Apesar da chuva, o dia está bem quente. E a lotação contribui para aumentar a sensação de desconforto. Não há como pegar algo na mochila para se distrair. Não há espaço. "O negócio é ficar paradinho, sem se mexer muito e se segurar bem nas curvas para não cair".

Quando finalmente consegue passar pela catraca e já relativamente perto do seu destino, uma senhora sobe no veículo. Ninguém se manifesta nem cede o lugar. "Com licença, pode-se sentar aqui, por favor". E nosso personagem prossegue o resto da viagem em pé.

Depois de longo tempo, ele chega, enfim, ao seu destino. Exausto e encharcado, finalmente poderá descansar. Mas não por muito tempo. Amanhã, começa tudo de novo.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Bienal e a formação de novos leitores

No último domingo, dia 11, chegou ao fim a XV Bienal do Rio. Realizada no Riocentro, o evento bateu, mais uma vez, o recorde de público. Aproximadamente 670 mil pessoas passaram pelos estandes das principais editoras e livrarias do país.



Números à parte, feiras literárias como essa têm vital importância para a formação de um novo público leitor no país. Grande parte desse lotou o Riocentro era composta por jovens, fossem eles em visita escolar ou crianças acompanhadas de seus pais.

O sucesso entre os mais jovens pode ser explicado por uma série de fatores, como a participação de grandes ícones da literatura infantil autografando suas obras, a exemplo de Mauricio de Sousa e Ziraldo, e de nomes internacionais, verdadeiros best-sellers, como Alyson Nöel e Anne Rice.



Cabe destacar ainda a grande oferta de livros infanto-juvenis com descontos significativos. Em vários estandes, era possível ver um espaço dedicado inteiramente aos mais jovens. Nesses, era comum também a presença de bonecos da Turma da Mônica, do Menino Maluquinho, da Luluzinha, dentre outros. Até os mais velhos queriam tirar fotos com os personagens para guardar de recordação.

Todavia, uma das coisas que me impressiona é a quantidade de pessoas presentes na Bienal. Sabemos que o brasileiro é um povo que lê pouco. Segundo um levantamento do Instituto Pró-Livro, a média é de 1,3 livros lidos por pessoa em um período de uma ano. Esse número não leva em conta os livros didáticos e pedagógicos. Assim, como explicar o sucesso de público das feiras literárias? Seria um sinal de que um novo público leitor está sendo formado? Ou a maioria dos presentes em eventos desse porte é composta de curiosos, que estão apenas passeando?

Particularmente, acho que a grande parte desse público é formada por curiosos apenas, que não cultivam o hábito da leitura. Mas espero que esses possam desviar seu olhar de vez em quando para os livros e tenham  -quem sabe- a oportunidade de conhecer o poder transformador das palavras.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Setembro

Na sala de casa, um porta-retrato guarda uma doce lembrança. Em preto-e-branco, a foto já demonstra sinais de envelhecimento. A imagem vai aos poucos se apagando e o papel fica amarelado.



Quem adentra aquela residência, se depara de imediato com a foto do casamento dos donos da casa. A imagem denuncia a alegria daqueles dois, então recém-casados. Mas o tempo também se mostra implacável. O marido já não tem mais aquele penteado certinho, ajeitado com gel para a ocasião. Na verdade, hoje os fios sãos parcos e raros. A esposa, por sua vez, já não tem a mesma elegância de outrora. Acabou engordando um pouco com o passar dos anos.

Todavia, já não temos mais tempo para ficar admirando a foto e se prendendo ao passado. Está na hora de nosso casal dar sua tradicional caminhada.

A chegada até a rua e, posteriormente, até a praça, é complicada. Os dois já não têm a mobilidade de outros tempos. Precisam andar devagar, passo-a-passo. O marido precisa também do auxílio da bengala. Mas nada disso tira a motivação do casal para mais um dia juntos.

Ao chegar à praça, exaustos, procuram um lugar para descansar. Uma moça cede, gentilmente, seu lugar no banco. O casal reluta à primeira oferta, mas acaba cedendo. Sorriem para a jovem como forma de agradecimento.

Sentados e mais aliviados, procuram agora esticar as pernas. Sentem então as primeiras dores da caminhada: nos joelhos, nos pés, nos quadris... Aos poucos, contudo, tentam esquecer a dor e começam a prestar atenção ao redor: o sol batendo, as crianças brincando nos balanços e o vendedor de algodão-doce. Junto a isso tudo, surgem também algumas lembranças. Como a do dia em que se conheceram, das viagens com os amigos, da surpresa da gravidez da esposa, da alegria do primeiro neto...

De repente, algo inusitado acontece: os dois acabam se dando as mãos, sem combinar nada com o outro. Algo espontâneo.



E assim permanecem as mãos, entrelaçadas, por toda aquela manhã ensolarada de setembro.