quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Novo tempo

Ainda é de manhã na casa de Rosi, mas a família já está quase toda arrumada. Falta levar ainda algumas coisas para o carro, tentar encaixá-las no porta-malas e, então, seguir em frente.

A viagem nem é tão demorada assim, mas é necessário chegar cedo à praia, caso queira garantir um bom lugar na areia para o Réveillon.


A família de Rosi não quer só assistir à queima de fogos, na verdade. Quer fazer uma grande confraternização para celebrar o ano que chega. Uma festa que dura quase o dia inteiro e exige uma certa organização: montar a tenda, colocar a bebida para gelar, arrumar algumas cadeiras para os mais velhos se sentarem e conferir se está tudo ok com o churrasquinho.

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João vai passar mais uma ano novo longe de casa. Está nos Estados Unidos, trabalhando temporariamente para uma firma local. Vai passar o Réveillon em casa mesmo, pois tem que adiantar alguns relatórios do trabalho. Contudo, vai ficar atento ao relógio e ao fuso horário. Quando der meia-noite no Brasil, vai sintonizar o canal internacional. Já que não é possível estar lá pessoalmente, o jeito é assistir à queima de fogos pela TV e matar um pouco as saudades de casa.

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A família de Juvenal mora no campo em uma pequena cidade do interior. Quando dá meia-noite do dia 31, os vizinhos costumam estar reunidos na varanda de alguma casa, jogando conversa fora.

No lugar, não há nenhuma programação especial para esse dia. Nada de shows, eventos ou queima de fogos. Preferem ficar, então, com a família e com os amigos, conversando até a vinda de um novo dia.

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Thiago está numa boate. Não é a primeira vez que comemora por lá. Gosta daquele clima, de conhecer gente nova e ficar dançando sem parar.

Dentro da boate, perde-se a noção de tempo. Não há janelas e o som é bem alto. Sabe-se que o dia 1° está chegando quando o DJ diminui a música e começa a contagem regressiva.

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Chico já está velho e vive em um apartamento acanhado, sozinho. Já quase perdeu as contas de quantos Réveillons viveu, cada um em um lugar e de forma diferentes. Agora, com mais idade e sem o mesmo pique de antigamente, escolhe passar a virada descansando. Sente sono cedo e não aguenta mais esperar até tão tarde. Assim, quando os primeiros sinais de cansaço aparecem, ele se recolhe e vai dormir.


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Cada uma dessas pessoas escolheu passar o dia 31 de uma forma diferente. Todavia, há uma semelhança entre elas: todas acreditam que dias melhores estão por vir.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Aniversário do blog

Há exatamente um ano meus textos finalmente saíam do papel e ganhavam a tela do computador. Sobre a forma de um blog intitulado "Letras e Relicário", eu enfim voltava a escrever- pensamento esse que eu já cultivava há um tempo.


No início, foi estranho. Não sabia que rumo tomar ao certo. "Escrever sobre o quê? Como manter uma regularidade e, ao mesmo tempo, qualidade?". Essas eram apenas alguma das minhas muitas dúvidas. Outro problema também era (e ainda é) minha timidez. Fico embaraçada enquanto os outros leem meu texto. Sei que pode soar estranho tal comportamento para uma pessoa que pretende ser jornalista. Mas talvez os tímidos entendam o que quero dizer...

Aos poucos, o blog foi ganhando forma. Comecei a me sentir um pouco mais confiante e até me aventurei no mundo das crônicas, algo até então inédito para mim, acostumada com os textos dissertativos-argumentativos do colégio.

O blog cresceu e superou minhas expectativas iniciais. Passou a ser lido por outras pessoas também, além dos meus amigos. Leitores que não conheço pessoalmente, o que me deixa ainda mais feliz.

Claro que tudo isso não foi fruto apenas do meu trabalho. Pelo contrário. A criação de um twitter específico para o blog (@letrasrelicario) foi apenas uma das boas ideias que recebi de amigos. Sem falar do trabalho de revisão dos textos, da divulgação do blog pelos nossos colegas...

Graças ao apoio desses parceiros, alcancei bons resultados. Só tenho a agradecer a todos que, de alguma forma, me ajudam seja comentando os textos, divulgando ou apenas acessando rápido para dar uma olhada. Não me arrisco a listar o nome de todos que colaboraram, pois certamente seria injusta ao esquecer o nome de alguém. Mas acredito que essas pessoas sabem que estou falando delas. A elas, então, o meu muito obrigado ainda mais especial.


Uma das minhas muitas alegrias nesse ano foi ter um texto de minha autoria publicado em um livro ("Acredite Universitários"). Fui umas das 100 vencedoras de um concurso do Universal Channel promovido em todo país entre os estudantes de universidades. Era um antigo sonho meu ter um texto publicado.

Consegui também manter meu compromisso com vocês, leitores, ao publicar semanalmente. Confesso que não sei como será o próximo ano. Minha vida na faculdade ficará mais "puxada". Contudo, pretendo continuar com o blog, ainda que não consiga escrever com a mesma regularidade e que o número de acessos venha diminuindo.

Por fim, uma novidade: agora vocês podem curtir a página do blog no facebook  (https://www.facebook.com/pages/Blog-Letras-e-Relic%C3%A1rio/310507488982471). Por lá também, vocês podem acompanhar melhor o meu trabalho. Paralelamente, o twitter do blog também continua a todo vapor (@letrasrelicario), bem como o meu pessoal (@mclaramodesto).


A todos vocês, meu sincero obrigado. Vocês são a parte mais importante desse relicário.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sobe, balão!

Na praça do bairro ele está sempre presente. Discreto, sua presença, no entanto, sempre chama a atenção das crianças. Qualquer jovem que passe por ali acaba desviando o olhar para ele. Ou melhor, para os balões.


Há balões de todas as cores e modelos: azul, vermelho, com desenho... Seu estoque é grande: sempre que o produto está acabando, ele logo trata de providenciar mais. Afinal, ele não pode ver uma criança triste sem o balão que tanto queria.

Ele nem sempre trabalhou com balões e naquela praça. Já esteve em parque de diversões, shoppings, etc. Mas em nenhum lugar foi tão feliz quanto ali, ao lado das crianças e de seus pais.

Cada balão que vende é como se fosse uma nova história contada. Uma história de simplicidade, como o balão, feito por linha e bexiga de borracha. Uma história de sucesso e queda: a alegria de uma jovem quando se vê diante do brinquedo e sua tristeza quando esse estoura ou voa. Uma história de nosso tempo: corrido, instantâneo e descartável. Após um deslumbre inicial logo esquecemos o balão em um canto, murchando. Ou abrimos mão mesmo desse, deixando-o voar porque "estamos cansados de ficar segurando".


Mas nada disso afeta o vendedor. Ele ainda se emociona com o fascínio que um mero balão desperta nas pessoas. E mesmo quando esse voa, o sorriso do vendedor permanece. Ele acredita que alguém lá em cima guarda-os, como uma espécie de lembrança da Terra. E que, no final das contas, os adultos e crianças lá em cima também estão se divertindo com o colorido dos balões.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

VIP

"Pois não, senhora. Pode entrar. Tenha uma boa festa"
"Perdão, meu senhor. Seu nome não consta na lista. Queira retornar, por favor. 
Mas como assim? Quer dizer que estou barrado?"



Eles constituem um mundo separado. Tem os seres humanos mortais e há eles: os VIPs. Sigla para Very Important Person, nem sempre eles são tão importantes assim. Muitas vezes, são celebridades instantâneas que já no próximo ano terão sido esquecidas. São pessoas do quinto escalão da classe artística. Nesse exótico grupo, ser ex-participante de reality show é quase uma profissão.


Ser considerado VIP não é para qualquer um. Um dos pré-requisitos para isso é já ter ido ao Castelo de Caras. É como um divisor de águas na carreira. Se antes você era a "atriz fulana de tal com seus filhos", agora você é " Elegante em sua nova casa de campo, Fulana de Tal apresenta seus herdeiros". Nada como saber usar as palavras certas.


Outra característica peculiar desse grupo é a presença de pulseirinhas no pulso. Temos também suas variações, como a camisa-convite, versão mais sofisticada das pulseirinhas. Sempre com o nome dos patrocinadores, as camisas são confeccionadas de forma padrão. Mas cada celebridade dá o seu jeitinho para não ficar igual a todo mundo. O importante é  a camisa: cortar a gola, deixar só uma manga e a barriga de fora.

Por meio das pulseirinhas ou das camisas, as celebridades têm acesso a um novo mundo. Um lugar onde tudo é perfeito, todos os flashes apontam em sua direção e cada um tem o seu próprio garçom.

Nesse novo mundo tudo é permitido: beber, perder a linha... "Se existe uma lei que proíbe o fumo em locais fechados, quem se importa? Ela não se aplica a mim".

Quando os VIPs mais VIPs (sim, porque também há uma hierarquia entre eles) estão cansados, uma boa pedida é recorrer ao "curralzinho". Lá, existe um espaço só seu para relaxar. Só entra quem quiser e qualquer tipo de paparazzi está vetado. Privacidade total.


Uma vez no "curralzinho", os VIPs só saem de lá para o grande momento da festa: a hora em que o DJ toca funk. Aí é uma correria generalizada para a pista de dança, que fica lotada. Descer até o chão segurando o copo da cerveja que patrocina a festa e ser fotografado. Pronto, sua participação no próximo evento está garantida.

E quando você cansar, terá uma van vazia esperando para levá-lo para a casa. Não tem problema que você tenha ido de carro e deixado no valet local com o manobrista. No dia seguinte, sua carruagem estará direitinho em sua mansão, como em uma passe de mágica.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Já é Natal...

Menos de um mês para o ano acabar. Algumas pessoas já preparam aquelas listas de promessas para o próximo ano: emagrecer, praticar um esporte, parar de fumar. Naturalmente, quase nada será cumprido.


As lojas e os shoppings também começam a ficar lotados. Parece uma competição entre as mulheres para ver quem sai com mais sacolas. Das tradicionais lembrancinhas para familiares que você não vê há anos, passando pela ingrata tarefa de escolher algo para seu amigo oculto. Aliás, tal denominação é um tanto engraçada: na maioria das empresas, o funcionário acaba contando para o amigo mais próximo quem ele tirou. Outras vezes, quando a empresa é maior, você acaba tirando uma pessoa sobre a qual você não tem conhecimento algum. Nesse caso, sim, temos um amigo oculto. Ou seria um "colega oculto", já que nunca o vimos na vida? E como falar de alguém que você não conhece para os outros adivinharem? Haja clichês!

Também é importante começar a pensar em qual prato você levará para a confraternização em família. Certamente, você vai preparar algo delicioso e com carinho, enquanto outras pessoas chegarão de mãos abanando, com uma fome insaciável, e comerão em questão de minutos todo o seu prato. Mas dentro das conversas, essa mesma pessoa que nada fez é bem capaz de reclamar do tempero e achar que que ficou faltando sal.


Papai Noel, é claro, também estará presente. Ou melhor, onipresente: em todos os shoppings, condomínios, lojas e lares. Até o seu tio já bancou uma de bom velhinho, mesmo sendo magro, sem barba e novo.

Acho que há algo de errado nessas histórias.