quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Baile de máscaras

Lembro-me de quando você nasceu. Ainda que eu fosse bem jovem e morasse em um vilarejo distante onde as notícias quase não chegavam, essa não passou despercebida. Logo as vizinhas mais falastronas contavam sobre o nascimento da filha do Rei. Finalmente, Vossa Majestade tinha uma herdeira do sexo feminino.

Seu rosto eu só conhecia por meio de pinturas de velhos artesãos que passavam de vez em quando em nossa chácara para repousar um pouco e prosseguir a viagem.

Desde o dia em que vi sua imagem retratada, algo despertou em mim. Eu era um menino e começava a ter minhas primeiras paixões. Você foi uma delas.



Não sei se fui atraído pela representação do seu olhar, tão misterioso, ou pelos seus cabelos, que pareciam tão sedosos nas pinturas.

Mas nunca tive a honra de conhecer você, até aquela presente data da qual jamais esquecerei.

Eu fora tratar de uns negócios para meu pai, longe do nosso vilarejo, quando soube da festa que seria realizada no dia seguinte, no palácio do Rei. Era uma grande celebração por mais uma de suas primaveras, foi o que me disseram. Toda nobreza estava convidada.

Quando soube da festa, abandonei logo meus planos. Adiei os compromissos para poder ficar mais um dia na cidade. Como não era da região, não tinha onde pernoitar. Acabei encontrando um conhecido de meu pai e me hospedei em um de seus pequenos cômodos.

Também não tinha o traje adequado para o baile. Estava apenas com a roupa do corpo, que apesar de ser de algodão, não era o suficiente. Mais uma vez fui salvo por conhecidos de meu pai. Um senhor me emprestou um antigo terno de seu filho mais novo, que havia ido morar no exterior. Não era exatamente do meu tamanho, mas estava elegante.


Eu não era um dos convidados da festa. Provavelmente, Vossa Majestade sequer sabia da minha existência. Era apenas um camponês a mais. Porém, bem arrumado e contando com um pouco de sorte, consegui me passar por outra pessoa e adentrei os recintos do palácio.

Era tudo muito luxuoso: decoração, vestidos, mobílias. Bebidas eram servidas à vontade, como eu jamais vira.

Estava deslumbrado e um pouco nervoso, em meio a tanta gente importante. Tomei um pouco de vinho para tentar relaxar. Enquanto apreciava a bebida, meus olhos percorriam cada detalhe daquele lugar, tão novo e estranho para mim.

Como não conhecia os outros convidados e nem tive a ousadia de me juntar a algum grupo e começar a conversar, sentei-me um um canto, sozinho, a admirar o palácio.

O palácio estava cheio. Entre uma música e outra, eu tentava distinguir a princesa, a verdadeira razão da minha presença. Avistei-a de longe, dançando com o que parecia ser o seu pai.

Um dos criados anunciou a atração que estava por vir: o baile de máscaras. Como não queria ir embora sem ao menos dançar um pouco, acabei me levantando e me juntando à multidão.


Entre um convidado e outro, acabei avistando, mais uma vez, aquele rosto familiar, agora já não tão distante. Sabe-se lá como, destino talvez, você também me viu. Nossos olhares se cruzaram por breves instantes e fomos incentivados por um estranho, já meio bêbado, a dançar. Nem acreditei que tocava suas mãos, encostava em seus cabelos...

Foi uma única dança. O bastante para eu me apaixonar ainda mais. Você perguntou meu nome, talvez surpresa com a presença de um desconhecido na festa. Eu não respondi. Não tive a coragem de tirar minha máscara. No fundo, eu era apenas um simples camponês e você,  a princesa e grande herdeira de Vossa Majestade.

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