quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Por que o Engenhão não enche?


Construído para o Pan-Americano de 2007 no Rio de janeiro, o estádio olímpico João Havelange (Engenhão) ainda não caiu no gosto do público carioca. Difícil dizer se ainda há tempo hábil para isso. Ano que vem, com a reabertura do Maracanã, o Engenhão perderá o posto de principal palco do futebol do Rio e deve sediar apenas os jogos do Botafogo e eventuais shows.

O Engenhão é um estádio com capacidade para mais de 40 mil pessoas e costuma ficar vazio. Disso estamos cansados de saber: todo dia sai uma matéria sobre isso. Seria apenas desinteresse por parte do público, como alguns pregam? Eu acho que não e tento explicar.

O estádio, que é arrendado pelo Botafogo, tem uma capacidade de público superior a média histórica da torcida botafoguense. Mesmo que 15 mil alvinegros (o que considero um bom público) compareçam ao Engenhão, ele vai continuar com aquele aspecto vazio, as cadeiras azuis ressaltadas. Os gritos da torcida não serão ouvidos com tanta nitidez.

Por outro lado, se 15 mil pessoas comparecem a um jogo em São Januário cuja capacidade de público é bem mais reduzida, embora o número de vascaínos em todo o país supere bastante o de botafoguenses (8,8 milhões de cruzmaltinos contra 2,8 milhões de alvinegros segundo pesquisa da PLURI Consultoria), comentaristas exaltam a grande mobilização da torcida.

Afinal, o copo está meio cheio ou meio vazio?

Outro aspecto importante que nunca é lembrado nas transmissões da TV é o horário escolhido para a realização dos jogos. Já pararam para perceber a grande diferença no público entre um jogo marcado para 16 h de domingo e outro marcado para às 22 h de quarta/21 h de sábado? É um absurdo. Nesse segundo caso, um torcedor que decide assistir a partida do seu time de coração chega muito tarde em casa. Se tiver que trabalhar cedo no dia seguinte então, o cansaço é certo.

Sabendo-se dessas dificuldades, as emissoras investem no pay-per-view dos jogos, sabendo que muitos preferem assistir o jogo no conforto do seu lar do que pegar o transporte público lotado ou horas de engarrafamento.

A violência também é motivo para ficar em casa. Com o entorno do estádio policiado, agora os vândalos marcam suas brigas para outros lugares, mais distantes dos olhos da fiscalização. Só essa semana duas  organizadas cariocas foram proibidas de frequentar os estádios pois alguns de seus integrantes se envolveram em brigas e até em mortes de torcedores.


Outra questão é o preço do ingresso. Ele não costuma ser barato, ainda mais para um torcedor que ganha pouco e deseja ir com a família no jogo. O passeio para dois adultos e duas crianças não sai por menos de R$100,00. Se quiserem assistir a mais jogos, o salário não aguenta até o fim do mês.

O Engenhão é considerado o estádio mais moderno da América Latina. De fato, a beleza impressiona. Pena que o mesmo não possa ser dito em relação ao seu entorno. Ruas estreitas dificultam o tráfego dos carros e até o deslocamento das pessoas.

Se você for de carro e estacionar nas cercanias (com sorte), além de pagar caro, encontrará enorme dificuldade para sair após a partida. Experiência própria, em dias de casa cheia não se chega na zona sul da cidade em menos de duas horas. A alternativa que seria o transporte público também não é das melhores. Empurra-empurra na rampa que dá acesso a estação de trem, vagões velhos e composições que demoram a passar...

A verdade é que o Engenhão foi colocado dentro de um bairro sem que qualquer obra de infraestrutura fosse feita ao seu redor para atender a nova demanda. O resultado é esse...

Desta forma, creio que a culpa dos estádios estarem vazios não é só da torcida que não comparece para apoiar o time (que muitas vezes tem uma atuação pífia). Uma série de questões (algumas das quais retratadas aqui) merecem ser estudadas com mais carinho para trazer de volta o colorido e a alegria das arquibancadas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Apenas mais uma canção

Ele abriu a porta de casa e se surpreendeu com a presença dela ainda no sofá da sala.

Tudo que ele queria era descansar e esquecer aquele momento conturbado que estava vivendo. Queria chegar em casa, por uma roupa confortável um chinelo e apagar. Mas era impossível. Ela tinha voltado.

Tudo bem que eles dividiam o mesmo apartamento até uns dias atrás, antes daquela discussão. "Pensando bem, o apartamento era dela também, mas precisava daquele encontro? Ela não poderia ficar uns dias na casa dos pais ou de alguma amiga?"

Mas ela não parecia estar muito preocupada. Ou pelo menos não demonstrava. Estava concentrada em dedilhar seu violão, tirar um acorde ou outro, enquanto fazia algumas anotações na partitura.

Ele resolveu evitar a presença dela e foi à cozinha preparar algo para comer. Enquanto abria a geladeira, começou a ouvir um barulho. Não parecia um ruído, e sim uma melodia. Conferiu o rádio. Mas ele estava desligado.

Só depois percebeu que o som vinha da sala.

Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é...