quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A luta pacífica de Marcelo Moreira por um jornalismo mais seguro

Quatro dias sem notícias. Tim Lopes saiu da sede da TV Globo no Jardim Botânico para gravar uma matéria em um baile funk na Vila Cruzeiro no dia 2 de junho e não voltou mais.  A morte, no entanto, só foi confirmada no dia 5 quando a polícia prendeu dois bandidos de uma quadrilha que presenciara a morte do jornalista.

“A morte do Tim foi algo muito traumático. Já existiam outros casos (de jornalistas mortos durante o trabalho), mas nenhum deles era tão famoso”, lembra Marcelo Moreira, então chefe de reportagem de Tim Lopes e um dos primeiros a receber a notícia.

Marcelo Moreira esteve no auditório da CPM (Central de Produções Multimídias)  da UFRJ no último sábado (dia 17) conversando com um grupo de 30 alunos sobre sua experiência profissional e sua atuação em organizações que investem e trabalham para a segurança de repórteres em todo o mundo.


A morte brutal de um colega durante o exercício da profissão acendeu em Marcelo um sinal amarelo. Um grupo de jornalistas começou a discutir os rumos da profissão em uma lista na internet e em encontros pelo Brasil. Em uma dessas reuniões, foi criada em dezembro de 2002, em São Paulo, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Um dos fundadores da associação e atual presidente, Marcelo explica a atuação da Abraji. “Não somos um sindicato nem produzimos reportagens. Estamos unidos em torno de objetivos comuns: fazer um bom jornalismo e garantir técnicas melhores de investigação”.

Atualmente, Marcelo também é um dos membros do quadro executivo do Insi (International News Safety Institute), organização fundada em 2003 que realiza treinamentos para repórteres que atuam em áreas de risco ou em cidades violentas.

O primeiro treinamento do instituto no Brasil foi realizado no ano de 2006 com cerca de 100 jornalistas, 50 em São Paulo e 50 no Rio de Janeiro. “Nunca o Insi tinha treinado tantos jornalistas de uma só vez”, conta Marcelo.  A demanda pelo curso em São Paulo cresceu, principalmente, depois que o repórter Guilherme Portanova foi sequestrado por integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) enquanto lanchava.

Desde então, outros dois cursos foram ministrados, um em 2010 e outro dois anos depois. No último, 12 repórteres tiveram aulas para que, no futuro, se tornem treinadores e não seja mais necessário importar a força de trabalho estrangeira.

Em sua página na web, o Insi mantém atualizado um ranking com a lista de jornalistas mortos enquanto trabalhavam. Em 2013, o Brasil ocupa a 6ª colocação na lista com três vítimas fatais . “A situação no Brasil é ruim. Síria, Egito, Somália, Índia e Paquistão têm mais jornalistas mortos, mas estão em guerra civil”, explica Marcelo.

A realidade das mortes no Brasil, no entanto, é bem diferente da de Tim Lopes. “O caso dele foge do perfil do jornalista que é assassinado em nosso país. Todos os bandidos foram presos e condenados”. Marcelo lembra ainda que, na maior parte dos casos, os repórteres assassinados trabalham em cidades do interior, em veículos menores. “Os crimes não ganham espaço na mídia e a investigação não é feita como nas grandes cidades”, lamenta Moreira.

Como editor chefe do RJTV 2ª edição, Marcelo Moreira também está preocupado com as agressões que os colegas de profissão vêm sofrendo durante a cobertura dos protestos  e admite que muitos repórteres têm medo de cobrir os eventos. A preocupação é tamanha que a emissora já cogita a hipótese de não cobrir as manifestações. “Não estamos mais mandando repórteres”, admite.

Marcelo ressalta que o objetivo da emissora é sempre informar de maneira correta, mas vê obstáculos nas atitudes agressivas de alguns manifestantes. “Se a gente parar de cobrir como vai ser? A informação vai ser dada por terceiros e a sociedade acaba sendo prejudicada”.

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